São John Henry
Newman nasceu em 21 de fevereiro de 1801 em Londres, Inglaterra. Filho mais velho
de um banqueiro, iniciou os estudos na Universidade de Oxford aos 16 anos,
tornando-se professor desta mesma instituição cinco anos mais tarde. Newman
tornou-se vigário da Igreja Anglicana, assumindo a paróquia de Saint Mary the
Virgin, também em Oxford. Em 1845, ele se converteu ao catolicismo. Newman foi
beatificado em 2010 pelo Papa Bento XVI e canonizado pelo Papa Francisco em 2019
[1].
Esta é uma série
de textos baseadas no trabalho do Padre Peter Cornwell (Inglaterra) sobre São John Henry Newman. Os textos foram
elaborados em preparação a visita do Papa Bento XVI ao Reino Unido para a
beatificação. Em formato de podcast, o trabalho do Padre Cornwell está
disponível na página especialmente criada para cobrir a histórica visita do
Papa Bento XVI à Inglaterra [2].
A motivação para
apresentar São John Henry Newman é a sua incisiva busca pela verdade. Nesses
pequenos textos, Padre Cornwell apresenta a vida de um santo: atribulada,
intensa, verdadeira. Em meio a crises políticas, guerras e fragilidade da fé, a
sua obra, mas principalmente sua vida, é fonte de inspiração para dias atuais.
Os textos produzidos em 2010, tratam do então Beato Newman, mas o que chama a
atenção do texto é ter sido produzido por um padre, um estudioso do Newman que
foi pároco da mesma paróquia que Newman fora, em Oxford. Assim, os textos contam
com uma conotação pessoal, uma aventura pessoal do Padre Cornwell. Todos são
convidados a essa peregrinação, que como nas palavras do Papa Francisco ao
citar Newman: “Para Newman, mudança é conversão, em outras palavras,
transformação interior. A vida cristã é uma viagem, uma peregrinação. A
história da Bíblia é viajar, marcada por incessantes recomeços” [3]. Assim
nesta sequência de cinco textos, que a busca da Verdade seja nosso guia... e
mais uma oportunidade para recomeçar.
Conhecendo Newman - Parte 1/5
Acho - diz Padre
Peter Cornwell - que comecei a conhecer John Henry Newman quando, como pároco
na Igreja Anglicana, a mesma que Newman atuou anos atrás, tropecei no altar.
Não foi uma simples batida, e acabei sofrendo uma fratura no meu pé. Superando
a dor com analgésicos, sentei-me no meu jardim da paróquia e comecei a ler um
livro, que há muitos anos havia recebido indicação para ler - o livro de John
Henry Newman ‘Apologia' um fragmento autobiográfico [4]. ‘Um dos melhores
exemplos da literatura inglesa’, disseram. De fato, achei que era bem mais!
Nessa obra, encontrei um ser humano realmente fascinante.
Às vezes,
pode-se ficar com a impressão de que pessoas justas são transformadas em
santos, mas que para isso parecem perder a humanidade - como se uma pessoa real
tivesse de ser eliminada. Não é o que aconteceu com este santo inglês. Newman escreveu sua 'Apologia' em resposta a
um clérigo bastante respeitado, Charles Kingsley, que questionou sua
integridade. Ele alegou que Newman compreende a verdade de forma peculiar e atuou
como uma espécie de teólogo mais interessado em defender as visões de outras
pessoas do que em busca da verdade. Newman responde contando a história de sua
conversão da Igreja Anglicana para a Igreja Católica. Newman contou essa
história da maneira mais honesta possível.
Newman surge
como um ser humano complexo. Imagens de Newman o mostram como um acadêmico de
Oxford bastante severo do século XIX. Lá ele está em um púlpito, espiando por
cima de óculos colocados em um nariz bastante longo, preparando-se para dar
palestras ou pregações. Mas por trás de tudo isso existe um ser humano bastante
sofrido. Ele teve uma infância difícil.
Seu pai era um banqueiro próspero que foi vítima do desastre bancário de 1816
após as Guerras Napoleônicas. O negócio do pai foi à falência, bem como a saúde
e ele morreu cedo, deixando sua família em certa harmonia, mas também com
grandes dificuldades financeiras e sociais.
O fracasso
pairava sobre Newman desde sua infância. A família, ao mesmo tempo suporte,
também era estímulo para a falta de sucesso. Ele era um estudante brilhante em
Oxford, mas extremamente exigente consigo mesmo, o que o levou a ter um colapso
e baixo rendimento nos exames finais. Recuperar-se do fracasso passou a ser um
tópico recorrente na vida de Newman. Com muito esforço ele conseguiu ser
aprovado e ser um tornar um professor da Universidade de Oxford.
Newman amava o
trabalho de ensinar e a vida tranqüila de um pesquisador, mas, por bem ou por
mal, ele parecia estar sempre atraídos para discussões e conflitos públicos. De
fato, ele não resistia a uma batalha intelectual. Com a caneta na mão, Newman
não era apenas um escritor brilhante, mas também um instigado oponente. Isso, é
claro, tinha como consequência a geração de inimizades, as quais o levou a
receber fortes e dolorosas críticas. Se por um lado, Newman era perspicaz em
sua dialética, sua sensibilidade não permitia se blindar adequadamente. Como
resultado, Newman sofria muito com esses embates.
Ele era por
natureza intensamente reservado e ainda era capaz de profundas e intensas amizades.
Desde tenra idade, ele tinha tendência ao sobrenatural - era um visionário:
‘Gostaria de viver como se os contos árabes fossem verdadeiros: ter minha
imaginação sob influências desconhecidas ou poderes mágicos… Eu pensei que a
vida poderia ser um sonho, ou eu um anjo, e todo esse mundo um engano’ [p. 2,
4]. Em seu diário, além de questões existenciais tão profundas, também podia se
notar queixas bem simples, assuntos terrenos, como o mau atendimento recebido
em hotéis que frequentava. Newman levava muito a sério a vida, os pormenores…
Mas também era capaz de se divertir brincando com os filhos de seus amigos.
Amava pegar seu violino, se recolher, e tocar músicas clássicas.
O verdadeiro
Newman, do semblante sisudo às verrugas, é de fato um ser humano fascinante e
complexo. Como Papa Bento nos lembrou: 'Santos não caem do céu - são pessoas
como nós com problemas complicados como nós. "Dizem que eles vão fazer de
Newman um santo, mas eles não podem. Somente Deus pode fazer santos e o único
material em que ele tem que trabalhar é matéria-prima da realidade em que os
seres humanos estão inseridos. O que acontecerá em Birmingham (momento da
beatificação do Newman em 2010) não é a criação de um santo com o uso de pó
mágico, mas sim, a família católica acordando para ver o que Deus fez com a
matéria-prima de John Henry Newman. É a família católica identificando a mão do
artesão divino e depois se unindo para comemorar o resultado final: a formação
de um santo.
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