Este é o segundo de cinco textos dedicados a
São John Henry Newman. No primeiro texto [1], foram
abordados aspectos gerais da vida de Newman. Seguindo o trabalho feito pelo
Padre Cornwell [2], o primeiro texto mostra um ser humano
fascinante e complexo. Um pensador que para se colocar coerente em seu tempo
escreve uma autobiografia, explicando as razões de sua conversão do
Anglicanismo para o Catolicismo [3].
Neste texto, apresenta-se outra característica de Newman: o ser pastor. Mesmo reservado, Newman possuiu vida intensa nas comunidades e paróquias pelas quais passou. Era um homem que se envolvia de modo intenso nas alegrias e tristezas de seu povo, cuidadoso com a coletividade.
No momento atual da pandemia, esta posição de Newman parece-nos uma importante inspiração para que não nos deixemos nos acomodar em nossas zonas de conforto e, ao contrário, participemos das alegrias - milagres e recuperações da Covid-19, bem como, das tristezas - milhares de solitários velórios por todo mundo.
Peter Cornwell foi vigário da antiga igreja em
Oxford: a igreja da Universidade dedicada a Santa Maria Virgem. A presença
contemplativa de Newman pairava ainda no local. Bastava abrir o livro de
batismo ou os registros de sepultamento e lá se via com grande frequência a
elegante assinatura de Newman, evidência do envolvimento de Newman nas alegrias
e tristezas de seu povo. Ainda mais comovente, foi observar muitas de suas
assinaturas em óbitos de bebês e crianças, indícios também do trabalho pastoral
que Newman realizava.
Foi a partir desse contato humano que surgiram os mais famosos de seus sermões, que atraíam multidões, de jovens e velhos. As homilias de Newman eram comunicadas sem dramaticidade tanto na sua forma quanto no seu conteúdo. Na pregação não utilizava de excessiva gestualidade nem mesmo apelava para recursos teatrais. Havia um cuidado quanto ao essencial. As homilias de Newman eram cuidadosamente preparadas, elegantemente trabalhadas e comunicadas com voz tranquila. O resultado: assembleias capturadas porque o pregador tinha como tema central a evidência de Deus que nos toca nos detalhes da vida cotidiana.
Newman acreditava no que ele chamava de
‘comunicação reservada’ da fé. Por esta
comunicação, Newman não enfatizava uma oratória rígida, mas ao contrário, a
sensibilidade e a delicadeza ao lidar com pessoas. A 'luz gentil' da verdade
arrasta. Sempre se deveria lembrar que, segundo a Igreja, a autoridade mais
alta de todas é a "consciência", que é "o vigário nativo de
Cristo".
Como exemplo, apresenta-se partes de uma de suas meditações, escrita em 27 de setembro de 1856, “A Short Road to Perfection” [4].
Um caminho para a perfeição: a rotina do dia
É o dizer dos homens santos que, se desejamos ser perfeitos, não temos mais nada a fazer do que cumprir bem as nossas obrigações diárias. Um caminho curto para a perfeição - curto, não porque fácil, mas, porque pertinente e inteligível. Não existem caminhos fáceis para a perfeição, mas certamente há formas de se chegar à perfeição.
Penso que esta é uma instrução que pode ser de grande utilidade prática
para pessoas como nós. É fácil ter ideias vagas do que é a perfeição, que serve
bem o suficiente para falar, quando não pretendemos atingi-la; mas assim que
uma pessoa realmente deseja e começa a procurá-la, fica insatisfeita com tudo,
menos o que é tangível e claro, e constitui algum tipo de orientação para a
prática.
Notas :
1.https://ncluxmundi.blogspot.com/2020/07/sao-john-henry-newman.html
2.https://thepapalvisit.org.uk/home/cardinal-newman/newman-podcasts/
3.http://www.newmanreader.org/works/apologia/index.html
4.http://www.newmanreader.org/works/meditations/meditations8.html#shortroad