sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Tempo de mudança: violência, desenraizamento e falsos profetas

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Há um elemento que aproxima a violência protagonizada por sujeitos ligados à organização do ISIS e a que acontece em nossas periferias e cidades latino-americanas protagonizada por sujeitos ligados à organização do narcotráfico: de modo geral seus protagonistas são jovens; na grande maioria se trata de jovens que vêm de contextos sociais e familiares que vivenciaram o desenraizamento de seu mundo de origem, desenraizamento de natureza social e cultural. Ambos vivem em periferias marginalizadas do Novo e do Velho Mundos, ao lado de contextos urbanos marcados pelo consumismo, pela posse ávida e desenfreada do dinheiro, pela evasão no lazer e pelo individualismo egoísta e cínico. O desenraizamento que as famílias destes jovens vivenciaram em muitos casos é o preço pago para que o poder (especialmente econômico) dos outros se mantenha.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Oração pela paz: desarmai-os e desarmai-nos...

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Oração pela paz
no espírito de Tibhirine
redigida pelo frei Dominique Motte
do Convento dos Dominicanos de Lille
em seguida aos atentados de Paris
(13 de novembro de 2015) [1]

Desarmai-os: já nos habituamos ao fato de que esta violência extrema seja o sinistro pão de cada de dia do Iraque, da Síria, da Palestina, da África Central, do Sudão, da Eritreia, do Afeganistão. Ela nos atinge agora. Quem não vê que ela poderia, em contrapartida, suscitar, entre nós, violências sem fim ou uma queda progressiva no medo ou no desespero?
Desarmai-os: que surjam também entre eles profetas, profetas que lhes gritem sua indignação, sua vergonha de ver a imagem do Homem, a imagem de Deus, desfigurada a este ponto, que lhes gritem sua convicção de que, agindo assim, eles cavam definitivamente sua própria tumba.
Desarmai-os, concedendo-nos, se for necessário, já que é necessário, todos os meios de proteger os inocentes, com determinação. Mas, sem ódio.
Desarmai-nos também: na França, no Ocidente – sem justificar, é claro, uma tal fúria de vingança –, a História nos ensinou tantas coisas. Dai-nos, Senhor, saber escutar os profetas guiados por Vosso Espírito. Que nós não desesperemos jamais de tentar entender, mesmo se ficarmos confundidos pela amplidão do mal deste mundo.
Desarmai-nos: guardai-nos de nos enrijecermos atrás das portas fechadas, atrás das memórias surdas e cegas, atrás de privilégios que não gostaríamos de partilhar.
Desarmai-nos, como Vosso Filho adorado. Cuja lógica interior é a única que pode estar à altura dos acontecimentos que nos afetam: “Não me tiram a vida, sou Eu quem a dá”.

Notas:
[*] Imagem extraída de: <http://amities-francophones.catholique.fr/wp-content/uploads/sites/14/2015/01/CR-2O-Minutes-bougies-forment-mot-paix-devant-capitole-toulouse-9-janvier-2015-PAIX.jpg>
[1] Texto original, em francês, publicado pela agência Église Catholique en France - <http://www.eglise.catholique.fr/approfondir-sa-foi/prier/prieres-pour-notre-temps/409644-seigneur-desarme-les-et-desarme-nous/> -, traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Uma possibilidade de protagonismo nas circunstâncias atuais

O filósofo Alasdair MacIntyre, no livro Depois da Virtude [1], comenta que a configuração do mundo atual assemelha-se ao declínio do Império Romano. Luigi Giussani, comentando este autor, afirma que “hoje, como naquela época, o que conta é a construção de formas locais de comunidade, em cujo interior, a civilização e a vida moral e intelectual possam ser conservadas através dos novos séculos obscuros que já pairam sobre nós. Defendo, por isso, uma forma de agregação que, exprimindo e procurando satisfazer as exigências humanas, busque as razões que tornam, ou possam tornar, fundamentadas e estáveis a amizade e a convivência humana com qualquer pessoa” [2]