O filósofo Alasdair MacIntyre, no livro Depois da Virtude [1], comenta que a configuração do mundo atual assemelha-se ao declínio do Império Romano. Luigi Giussani, comentando este autor, afirma que “hoje, como naquela época, o que conta é a construção de formas locais de comunidade, em cujo interior, a civilização e a vida moral e intelectual possam ser conservadas através dos novos séculos obscuros que já pairam sobre nós. Defendo, por isso, uma forma de agregação que, exprimindo e procurando satisfazer as exigências humanas, busque as razões que tornam, ou possam tornar, fundamentadas e estáveis a amizade e a convivência humana com qualquer pessoa” [2]
Num momento de confusão como o do Brasil de hoje, estas palavras nos parecem indicar uma direção para caminhar e construir em nosso cotidiano.
A importância da contribuição de formas de agregação como as preconizadas por Giussani encontra, ao longo da história, confirmações significativas. O historiador inglês Christopher Dawson, inspirado numa observação de John Henry Newman, ressalta a contribuição dos monges à construção da sociedade medieval, nos alertando acerca do fato de que, em cada circunstância da história, mesmo a mais trágica, o ser humano autêntico é sempre a possibilidade de um “novo início” [3]. Valia na Idade Média. E vale hoje. Não estamos propondo um retorno saudosista à Idade Média e sim um resgate, ao longo do percurso histórico da humanidade, de experiências que possam iluminar e sugerir caminhos para o nosso tempo.
Eis o texto de Dawson:
“Foi o labor disciplinado e incessante dos monges que parou a marcha da barbárie na Europa ocidental e que restituiu novamente ao cultivo as terras que tinham sido abandonadas e despovoadas ao longo das invasões. Num passo bem conhecido acerca da missão de São Bento, J. H. Newman escreve que ‘o santo encontrou o mundo social e material em ruína, e coube-lhe a missão de recolocá-lo nos eixos, não com métodos científicos, mas com meios naturais, não com a pretensão de realizar esta tarefa num tempo determinado ou utilizando-se de um remédio extraordinário ou por meio de grandes gestas; mas de modo tão calmo, paciente, gradual, ao ponto que com frequência ignorou-se este trabalho até o momento em que encontrou-se concluído. Tratou-se de uma restauração, mais do que de uma obra de caridade, de uma correção ou de uma conversão. O novo edifício, que este trabalho ajudou a erguer, foi mais um crescimento do que uma construção. Via-se homens silenciosos nos campos; outros podiam ser vistos numa floresta, escavando, aterrando e construindo, e havia outros homens silenciosos, que não se viam, sentados no frio do claustro, cansando seus olhos e concentrando suas mentes para copiar e compilar pacientemente os manuscritos que eles tinham salvos. Nenhum deles protestava, ninguém se queixava, ninguém se sobressaia e enaltecia quanto realizava. Mas aos poucos os bosques pantanosos se tornavam eremitérios, casa religiosa, celeiro, abadia, aldeia, seminário, escola, e enfim, cidade’ (Newman, Historical Studies II)” [4].
Num momento de confusão como o do Brasil de hoje, estas palavras nos parecem indicar uma direção para caminhar e construir em nosso cotidiano.
A importância da contribuição de formas de agregação como as preconizadas por Giussani encontra, ao longo da história, confirmações significativas. O historiador inglês Christopher Dawson, inspirado numa observação de John Henry Newman, ressalta a contribuição dos monges à construção da sociedade medieval, nos alertando acerca do fato de que, em cada circunstância da história, mesmo a mais trágica, o ser humano autêntico é sempre a possibilidade de um “novo início” [3]. Valia na Idade Média. E vale hoje. Não estamos propondo um retorno saudosista à Idade Média e sim um resgate, ao longo do percurso histórico da humanidade, de experiências que possam iluminar e sugerir caminhos para o nosso tempo.
Eis o texto de Dawson:
“Foi o labor disciplinado e incessante dos monges que parou a marcha da barbárie na Europa ocidental e que restituiu novamente ao cultivo as terras que tinham sido abandonadas e despovoadas ao longo das invasões. Num passo bem conhecido acerca da missão de São Bento, J. H. Newman escreve que ‘o santo encontrou o mundo social e material em ruína, e coube-lhe a missão de recolocá-lo nos eixos, não com métodos científicos, mas com meios naturais, não com a pretensão de realizar esta tarefa num tempo determinado ou utilizando-se de um remédio extraordinário ou por meio de grandes gestas; mas de modo tão calmo, paciente, gradual, ao ponto que com frequência ignorou-se este trabalho até o momento em que encontrou-se concluído. Tratou-se de uma restauração, mais do que de uma obra de caridade, de uma correção ou de uma conversão. O novo edifício, que este trabalho ajudou a erguer, foi mais um crescimento do que uma construção. Via-se homens silenciosos nos campos; outros podiam ser vistos numa floresta, escavando, aterrando e construindo, e havia outros homens silenciosos, que não se viam, sentados no frio do claustro, cansando seus olhos e concentrando suas mentes para copiar e compilar pacientemente os manuscritos que eles tinham salvos. Nenhum deles protestava, ninguém se queixava, ninguém se sobressaia e enaltecia quanto realizava. Mas aos poucos os bosques pantanosos se tornavam eremitérios, casa religiosa, celeiro, abadia, aldeia, seminário, escola, e enfim, cidade’ (Newman, Historical Studies II)” [4].
Notas:
[1] MACINTYRE, Alasdair. Depois da virtude. Bauru: Edusc, 2004.
[2] GIUSSANI, Luigi. O eu, o poder, as obras: contribuição de uma experiência. São Paulo: Cidade Nova, 2001, p. 204.
[3] ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo: antissemitismo, imperialismo, totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
[4] DAWSON,Christopher. Il cristianesimo e la formazione della civiltá occidentale. Milano: BUR, 1997, pp. 70-71 (tradução nossa).
[1] MACINTYRE, Alasdair. Depois da virtude. Bauru: Edusc, 2004.
[2] GIUSSANI, Luigi. O eu, o poder, as obras: contribuição de uma experiência. São Paulo: Cidade Nova, 2001, p. 204.
[3] ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo: antissemitismo, imperialismo, totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
[4] DAWSON,Christopher. Il cristianesimo e la formazione della civiltá occidentale. Milano: BUR, 1997, pp. 70-71 (tradução nossa).
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