sábado, 4 de junho de 2016

Educação para a liberdade: um desafio para o Brasil

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Dando continuidade à reflexão acerca dos caminhos para uma renovação política do Brasil, gostaríamos hoje de focar sobre a importância da educação. Renovar a educação brasileira não é apenas uma questão quantitativa, apesar de ser evidentemente essencial assumir questões como, por exemplo, a digna remuneração econômica do corpo docente e a disponibilização de estruturas condignas para a instrução. Renovar a educação é também uma questão de qualidade: que tipo de educação o país está propondo para as novas gerações? Por exemplo: trata-se de uma educação tecnicista e exclusivamente voltada à capacitação de habilidades e competências visando o mercado de trabalho? Ou ainda, que tipo de conteúdos proporcionamos para esta formação através dos professores, currículos e manuais escolares?

Diante destas questões parece-nos significativo propor este texto de Luigi Giussani, que retoma um elemento essencial da proposta educativa: a educação para a liberdade, fornecendo algumas indicações concretas acerca do que isto implique.
Educação para a liberdade é igual à educação para a responsabilidade. Responsabilidade de vem de “responder”. A educação à responsabilidade é educação para responder àquilo que nos chama. Mas em que consiste esta educação para a liberdade, isto, é, à responsabilidade?
a) Antes de mais nada, a educação à responsabilidade implica uma educação à atenção. Porque a atenção não necessariamente se impõe à nossa liberdade, não é automaticamente fácil prestar atenção.
O preconceito, seja qual for a sua origem, impede a atenção: ou porque prevalece o interesse, e daí nasce a distração, ou porque nos apegamos a uma ideia já existente, e daí não prestamos atenção à mensagem nova, ou também por concentrarmos a sensibilidade naquilo que nos agrada e, por isto, nos tornamos aos poucos insensíveis a outros aspectos ou particularidades de uma proposta ou, ainda, por tomarmos uma atitude simplista, que se torna até um delito, quando aplicada a um problema grave. A atenção deve, acima de tudo, dar conta da totalidade dos fatores. Como é importante esta obstinada acentuação da totalidade!
b) Educar à responsabilidade significa, além de educar a atenção, educar à capacidade de aceitação. A capacidade de acolher uma proposta na sua integridade também não é automática. [1]
Em outro texto, Giussani (2002) usa uma metáfora para descrever o que é a aceitação:
é como buscar o ouro dentro da lama do leito do rio. (...) Este é o valor da liberdade em ação. A sua liberdade em ação é tal que, diante da lama e ouvindo alguém dizer “dentro da lama há pepitas de ouro”, suja suas mãos, suja-se inteiramente e mergulha na lama até aos joelhos. Esta é a liberdade. Pelo contrário, não exerceria esta liberdade, alguém que reclamasse pela sujeira e não quisesse o ouro para evitar a fadiga. [2]
Este trecho coloca alguns questionamentos que podem ajudar nossa reflexão crítica acerca da realidade brasileira: de que modo o ensino e a atividade formativa, de modo geral, estão educando as novas gerações à atenção e à aceitação? Ou, de que forma um ensino que transmite concepções do mundo preconcebidas é um impedimento no processo de desenvolvimento da atenção e da aceitação?
Se a liberdade é condição para um caminho político democrático, estas questões assumem considerável relevância no que diz respeito ao futuro do Brasil.

Notas
[1] GIUSSANI, Luigi. O senso religioso. Brasília: Universa, pp. 191-192.
[2] GIUSSANI, Luigi. Dal temperamento, un metodo. Milano: BUR, 2002, p. 101, tradução nossa.

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