Em seu livro O nome de Deus é Misericórdia [1], Papa Francisco descreve a diferença entre corrupção e pecado, oferecendo-nos um subsídio importante para pensar os eventos que vivemos atualmente. Propomos alguns trechos do livro para estimular uma reflexão.
“A corrupção é o pecado que, em vez de ser reconhecido como tal e de nos tornar humildes, é transformado em sistema, torna-se um hábito mental, um modo de viver. Não nos sentimos mais necessitados de perdão e de misericórdia, mas justificamos a nós mesmos e aos nossos comportamentos.”
“O pecador arrependido, que depois cai e recai no pecado por causa de sua fraqueza, encontra novamente perdão, desde que se reconheça necessitado de misericórdia. O corrupto, ao contrário, é aquele que peca e não se arrepende, aquele que peca e finge ser cristão, e com a sua vida dupla provoca escândalo.”
“O pecado, sobre tudo se reiterado, pode levar à corrupção, mas não quantitativamente – no sentido de que determinado número de pecados fazem um corrupto –, quando muito qualitativamente: criam-se hábitos que limitam a capacidade de amar e levam a autossuficiência. O corrupto se cansa de pedir perdão e acaba por acreditar que não deve pedir mais.”
“A corrupção não é um ato, mas uma condição, um estado pessoal e social, no qual a pessoa se habitua a viver. O corrupto está tão fechado e satisfeito em alimentar sua autossuficiência que não se deixa questionar por nada nem por ninguém. Construiu uma autoestima que se baseia em atitudes fraudulentas: passa a vida buscando os atalhos do oportunismo, ao preço de sua própria dignidade e da dignidade dos outros. O corrupto tem sempre a cara de quem diz: ‘Não fui eu!’. Aquela que minha avó chamava ‘cara de santinho’.”
Papa Francisco é preciso: o corrupto não se percebe necessitado e o pecador sim. Necessitado daquele olhar que chegou a Zaqueu, a Nicodemos, a Mateus, à Samaritana e até a nós através da presença de Cristo na Igreja.
Notas:
[*] Imagem retirada de: http://catolicosribeiraopreto.com/o-fariseu-e-o-publicano/
[1] FRANCISCO. O nome de Deus é Misericórdia: uma conversa com Andrea Tornielli. São Paulo: Editora Planeta, 2016, pp. 113-125.
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