sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Se o ISIS não o fizer antes, o próprio Ocidente derrubará suas igrejas

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3 de agosto de 2016, apenas oito dias depois da terrível execução do Padre Jacques Hamel, ao final da Missa na Igreja de Saint-Étienne... Outra Missa, mas, dessa vez, a igreja é a de Santa Rita, em Paris [1]. Também nesse caso, entram homens armados: não são terroristas vinculados ao ISIS, são policiais do batalhão de choque. Não invocam Alá, agem segundo a lei. Não degolam o celebrante ou algum dos fiéis, “limitam-se” a interromper o rito. Arrastam, à força, para fora do templo, os sacerdotes com os paramentos sagrados e os fiéis.
O processo administrativo, do ponto de vista formal, está correto, visto que, no ano 2000, a associação belga “Les Chapelles Catholiques et Apostoliques”, antiga proprietária do templo, colocou-a à venda. Passados 10 anos da tramitação burocrática, a Igreja de Santa Rita foi adquirida pela sociedade imobiliária Garibaldi que decidiu demoli-la para construir um estacionamento. A resistência dos fiéis, e com eles dos sacerdotes, conseguiu atrasar a demolição por alguns meses, até que, no dia da Epifania do Senhor, do ano de 2016, o Tribunal Administrativo de Paris confirmou que o acordo deveria ser respeitado e que, portanto, a igreja deveria ser demolida. A intervenção das forças de ordem foi somente o último anel de uma longa cadeia de eventos.
Sei bem a diferença entre quem mata na igreja aplicando a ordem vinda do ISIS e quem, de uniforme, desocupa uma igreja seguindo a ordem de um juiz francês. Mas, os dois acontecimentos são muito próximos um do outro no tempo, ambos são dolorosos, apesar de diversos e de diferentes intensidades, para que não busquemos as evidentes analogias:
1. Perto de Rouen, dois jovens miseráveis mostram – não são os primeiros nem serão os últimos – que a loucura em nome de Alá pode chegar a tirar a vida de inocentes, e escolhe fazê-lo no ponto alto do Sacrifício do Inocente. Em Paris, homens que têm o objetivo de tutelar a segurança de todos mostram – mesmo esses não são os primeiros nem serão os últimos – que a loucura em nome do povo francês pode chegar a não levar em conta o mesmo Sacrifício.
2. Em Saint-Étienne, a mensagem de morte é que a Igreja é um objetivo, pelo menos até quando ainda existir alguma aberta. Em Paris, a mensagem amarga é que os terroristas são apenas impacientes: se esperassem – nem precisaria ser muito –, os cristãos mesmos se responsabilizariam por passar a escavadeira sobre as próprias igrejas. Um pouco como os capitalistas que, segundo Lênin, teriam fabricado as cordas com as quais seriam mortos pelos comunistas.
3. A reação depois da morte de Padre Jacques pareceu proporcional à gravidade do que aconteceu. Por que “pareceu”? Porque bastaram poucos dias para arquivar um ato monstruoso como esse, enquanto que a reação à expulsão de Santa Rita, em Paris, praticamente não existiu.
4. Não há reações diante da enorme perseguição a padres, religiosos e fiéis em Cristo, mortos selvagemente, todos os anos, só porque são cristãos em muitos lugares do mundo: se se mostra alguma atenção à perseguição é apenas quando acontece na nossa casa, de forma que fica sempre parecendo que, na realidade, não há perseguição alguma. Se hoje a perseguição chegou sem obstáculos no coração da Europa com modalidades simbolicamente cruéis como as que se viram é porque conseguiu agir com a quase total indiferença da Europa e do Ocidente quando ocorreu na Síria, no Iraque, na Nigéria, no Paquistão, na China... Mas também porque as pessoas não se dão conta do perfil persecutório que se esconde por trás de leis e sentenças, em virtude das quais, na França, na Europa, no Ocidente, se processam bispos simplesmente porque recordam as verdades de fé, e se derrubam igrejas para construir em seus lugares garagens.
Vale a pena reler Soljenítsin: “Tiram-nos o que temos de mais precioso: a nossa vida interior. No Leste é o bazar do Partido que pisa nela; no Oeste, a feira do comércio”. No profético discurso de Harvard, em 1978, o termo “Partido” talvez tenha sido modificado. Mas, o resto vale mais hoje do que quando foi pronunciado.

Notas:
[*] Imagem tirada daqui.
[1] Texto adaptado para o português, por Paulo R. A. Pacheco, a partir de original italiano publicado no dia 18 de agosto de 2016, no jornal Tempi, por Alfredo Mantovano. Confira original aqui.

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