sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Terremoto na Itália: por onde recomeçar? O amor é mais forte do que a destruição e a morte


O terremoto que, no dia 24 de agosto, devastou e destruiu cidades inteiras do Centro da Itália (as regiões do Lácio, Marcas e Úmbria) compreendeu mais de três mil eventos sísmicos, sendo que o tremor da terra ainda continua. Isto provocou um total de cerca 300 mortos e quatrocentos feridos, alguns dos quais em estado grave. Ainda hoje se procuram corpos de pessoas desaparecidas. Mas, junto ao desamparo e a morte, se levantou um movimento enorme de solidariedade e cuidado que permitiu salvar 204 vidas humanas retirando-as de debaixo dos escombros. Assim como a terra continua tremendo, não cessa a solidariedade para com as populações atingidas. 
Esta experiência, além de literalmente encontrar vida no meio da morte, consolidou naquelas populações o desejo e a esperança de permanecer em suas comunidades, reconstruindo suas vidas e valores, a começar pelas escolas. O bispo da cidade de Ascoli, Giovanni d’Ercole, ao celebrar as exéquias de uma parte dos defuntos, disse que ele mesmo se voltou a Deus perguntando o que fazer diante de tanto desamparo, perdas, sofrimento. E exortou os atingidos a não ter medo de gritar sua dor, mas também não perder a esperança: “Juntos reconstruiremos as nossas casas e igrejas; juntos, sobretudo, revitalizaremos nossas comunidades a partir das nossas tradições, acima dos escombros da morte. Juntos! Nossos sinos voltarão a tocar”. Nisto ele se fez interprete da vontade de tantas pessoas, expressa também pelo prefeito de Amatrici, Sergio Pizzoco.
Durante uma missa celebrada no abrigo de Arquata, os bombeiros que participaram das operações de resgate construíram uma cruz com o material que utilizaram para escavar entre os escombros. Uma cruz que expressa o árduo trabalho de salvar vidas humanas, a esperança, a tragédia, mas também a ação humana na busca por vidas. Em Núrsia, cidade de nascimento de São Bento, fundador do movimento beneditino e padroeiro da Europa, que também foi atingida pelo terremoto que afetou seu patrimônio histórico, quando iniciaram os tremores de terra, por volta das três horas da madrugada, os monges e a população se reuniram para rezar em volta da estátua de São Bento, pedindo-lhe proteção. 
É também significativa a notícia de que vinte africanos solicitantes de refúgio, abrigados em uma estrutura temporária em Monteprandone, na região de Marcas, pediram para trabalhar como voluntários em Amandola, uma das cidades atingidas, querendo ajudar os moradores da região que os abriga, nesse momento trágico.
No pequeno caixão de uma criança – Giulia, de 9 anos – falecida sob escombros, havia uma carta de Andrea, o bombeiro que achou seu corpo já sem vida: “Tchau, pequena. Eu a ajudei a sair daquela prisão de escombros. Me desculpe se chegamos tarde demais e você já tinha parado de respirar. Mas quero que você saiba, no Céu, onde está, que fizemos tudo o que foi possível para tirar vocês fora de lá. Quando eu voltar à minha casa em Áquila eu saberei que há um anjo que me olha do céu e, de noite, você será uma estrela luminosa. Tchau, Giulia! Apesar de não ter conhecido você, eu a quero bem. Andrea”. Sua irmã mais nova, de quatro anos, Giorgia, que se encontrava abraçada à Giulia, conseguiu sobreviver. Possivelmente Giulia protegeu com seu corpo sua irmã menor. Ficaram 17 horas debaixo dos escombros. Quando Giorgia foi retirada com vida, todos os presentes bateram palmas, quase que celebrando a luz que não se apaga, mesmo que na escuridão do terremoto. O pai das duas meninas disse: “Há Alguém que protege estas meninas, e que pelo menos salvou-me uma delas”. Somente o amor salva.
Em meio a tantas iniciativas solidárias para ajudar o povo dessas cidades destruídas, há a iniciativa promovida pelas associações que promovem slow food na Itália e no mundo. Estão realizando almoços ou jantares onde servem o famoso prato tradicional da cidade de Amatrice que é o macarrão à matriciana para arrecadar dinheiro. Metade do valor de cada prato de macarrão será entregue à prefeitura da cidade de Amatrice para sua reconstrução. 
Recomeça-se assim, pelo reconhecimento de que as exigências de Bem, de Beleza, de Justiça, de Verdade, de Eternidade, são o motor do ser humano e os fatores que o lançam na realidade: o fazem desejar a vida, o fazem arriscar para salvar vidas, o fazem mover para ser solidário e reconstruir. Recomeça-se assim: pelo encontro com Cristo que doa a vida para salvar a nossa, que Se fez carne, para responder àquelas exigências; e a cujo ímpeto de doação cada um de nós pode unir-se com aquilo que somos e temos.
No Brasil, hoje, diante de tantos desafios que colocam a necessidade de novos inícios na política, na economia, na cultura, estes acontecimentos são um convite para também recomeçar. 

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