Hoje, 22 de fevereiro de 2016, completam-se onze anos da morte do Padre Luigi Giussani, sacerdote italiano fundador do Movimento de Comunhão e Libertação. Propomos um trecho da entrevista com o jornalista Robi Ronza sobre os primeiros trinta anos da história do Movimento, republicado na Itália pela editora Rizzoli BUR (Il movimento di Comunione e Liberazione: 1954-1986, 2014). O texto foca a importância do papel dos cristãos no momento histórico contemporâneo, como sendo essencial para a afirmação do valor da pessoa humana contra as novas, e mais sofisticadas, formas de despotismo.
Robi Ronza Ao longo de nossas conversas em 1975, o senhor já tinha tido ocasião de dizer que os cristãos podem ter um papel importante e decisivo no nosso tempo. Isto foi afirmado numa época em que a maioria dos intelectuais colocava suas esperanças principalmente no marxismo; e o Ocidente "secular" parecia muito mais seguro de si mesmo do que é agora. Mas, enquanto isso, a grande onda desta cultura, já em crise nos círculos intelectuais, atingiu as massas, que hoje são muito mais afetadas do que jamais foram antes. Dez anos mais tarde, o Movimento é muito maior do que era então; há um Papa (João Paulo II, ndr) com o qual ele se sente – disse o senhor – particularmente em sintonia. Finalmente, o fato de que estamos no ocaso da era moderna tornou-se muito mais evidente. Neste novo conjunto de circunstâncias, o Movimento o que faz? Quer dizer, que objetivos "estratégicos" tem?
Luigi Giussani Parece-me claro que, hoje, ainda mais do que então, os tempos demandam cada vez mais aos cristãos um papel ativo, de longo alcance; e quanto extensa deve ser a obra de reconstrução humana e cultural da qual já dez anos atrás havíamos sublinhado a urgência.
Hoje muito mais do que antes, de fato, a liberdade está em perigo. E isto porque, diante da confusão geral, a cultura política busca um crescimento cada vez maior e concentração de poder real como o único caminho da salvação. Habilmente gerido e empregado organicamente em todos os seus âmbitos (político, econômico, cultural e de comunicação), o poder está se tornando um vício de grande perfeição técnica; portanto, capaz de aumentar a força, mesmo que com cada vez menos atrito, uma força que opera através de um acordo entre as várias e grandes ordens constituídas no Oriente e no Ocidente, acordo que eles chamam de paz. O resultado deste processo é um novo despotismo – mais anônimo e suave, mas talvez por isso mais nefasto do que todos aqueles que o precederam na história – que, ao utilizar-se dos mais diversos aspectos do grande desenvolvimento científico e tecnológico da nossa época, tende a tornar o homem uma engrenagem cada vez mais condicionada e inconsciente de um mecanismo incontrolável.
Resumindo diria então que a contribuição para a construção de um mundo mais humano – que, hoje sentimos que temos o dever de dar, com muito mais urgência do que há dez ou mesmo trinta anos atrás, quando começamos – tem vários aspectos, alguns de antiga data, e outros que se tornaram necessários mais recentemente. Primeiro, nós nos sentimos comprometidos para dar, como sempre, uma contribuição não secundária para o trabalho de conscientização, tanto entre os intelectuais quanto entre o povo; conscientização das raízes profundas da grande e geral incerteza e confusão que, da direita para a esquerda, está chegando à cultura moderna inteira. A esse nosso compromisso originário devem ser adicionados outros, que são um desenvolvimento daquele; quero dizer: uma mobilização em torno do valor da pessoa, e também à luta que antigamente seria chamada de luta contra um tirano, e que agora é a luta contra a tirania insidiosa do novo poder. Este é um momento em que, mais uma vez, como no tempo das invasões bárbaras, a Igreja é chamada a tornar-se a salvação da humanidade. E CL, dentro dos limites de suas forças, busca não faltar a este chamado.
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