terça-feira, 8 de agosto de 2017

Comer: a importância da atenção plena e a sublimidade do instante


Comer hoje se tornou um problema. O número de pessoas que vive esse gesto fundamental para vida como um momento problemático, porque engordativo, cresceu muito em todo o mundo. No Brasil já existem cerca de 50% dos adultos com excesso de peso. Um grande problema para a saúde e para a qualidade de vida!

Uma das coisas que as pesquisas sobre o assunto têm mostrado é que o comer em excesso está associado a um eu que se tornou voraz. Esta voracidade nos foi ensinada pela correria da vida moderna associada à solidão, ao tédio, ao vazio, à ansiedade. A esta condição de “falta subjacente” se acresce a oportunidade que o mercado de bebidas e produtos alimentares industrializados excessivamente palatáveis encontrou para oferecer uma resposta inadequada e em última instância insatisfatória: gerar “conforto” e prazer momentâneo. Como exemplo ilustrativo, vejam essas máximas de três propagandas de chocolate e bombons: “pense menos, ame mais” (chocolate?); “mata sua fome” (fome de que?); “você merece” (essa indulgência e prazer momentâneo...). Essa dinâmica tornou-se um ciclo vicioso: diante da sensação de vazio, ansiedade e desconforto “daquele” instante, vem à memória as respostas fáceis e imediatas do conforto da comida prazerosa e, consequentemente, os ataques à geladeira fora de hora, a corrida para comprar lanchinhos, bombons, biscoitos recheados, salgadinhos e refrigerantes. É fácil observar a presença em nós e nos outros desse “comer voraz”. É só observar como engolimos a comida vorazmente!
Como sair desse ciclo? Os antigos monges com sua sabedoria milenar trazem muitas dicas a esse respeito. Para eles, não deve haver separação entre corpo e espírito. E nesse aspecto é bonito ver que seja a tradição dos monges budistas como aquela dos cristãos nos dizem a mesma coisa. O primeiro gesto de rompimento do ciclo é, como diz a tradição budista, comer com atenção plena (mindfullness); ou como diz a tradição cristã, comer tendo presente a sublimidade do instante. São Bento em sua regra de vida nos ensina que devemos tratar todas as coisas materiais (como a comida, por exemplo) com veneração e cuidado, como os vasos do altar.
Comer deve ser um gesto sagrado. Para isso, é preciso organizar-se para ter horário marcado e fixo todos os dias. Podemos mudar alguns dias e no fim de semana, mas voltar sempre que possível à rotina. É preciso cuidar-se para dormir bem. Quem dorme pouco come muito mais e tem mais fome. Uma dica para dormir bem é tirar a televisão e o computador do quarto, e desligar o celular uma hora antes de dormir. A luz desses 3 aparelhos tira o sono. O ambiente em que nos alimentamos, em casa, no restaurante, ou no trabalho, precisa ser calmo e agradável. Devemos evitar comer em shopping centers ou locais de refeição muito barulhentos e abarrotados. Precisamos comer sempre sentados, e em uma mesa. E ter atenção plena, ou seja, prestemos atenção ao prato e ao que estamos comendo, sem fazer outra coisa como ler ou ver televisão. Ter a atenção voltada para outras coisas enquanto comemos, distrai os sentidos de nosso cérebro e prejudica as informações neurais de saciedade, e assim acabamos comendo mais e tendo fome mais rápido. As conversas devem ser sobre assuntos positivos e construtivos; enquanto comemos, pensemos e falemos sobre as coisas positivas da vida. É um gesto sagrado! Nosso corpo vai ficar muito contente e confortável quando cuidarmos dele assim. Os hormônios do estresse como o cortisol e a noradrenalina irão diminuir, assim como nossa fome. E por fim, cada vez mais os estudos demonstram que a meditação e a oração diária, fazem muita diferença, pois alimentar o espírito sacia muito mais do que alimentar apenas o estômago.

Ana Lydia Sawaya


2 comentários:

  1. Ao apresentar a atenção plena para uma experiência alimentar mais satisfatória, o texto nos ajuda a recolocar nossas ações. A ligação entre atitude positiva, mindfulness e resiliência ao estresse se confirma, também na alimentação!Muito bom!

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