quarta-feira, 4 de março de 2015

Quando não é preciso morrer nem de vodca nem de tédio...

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Melhor morrer de vodca do que de tédio”: esta frase de Vladimir Maiakovsky (1893-1930) foi postada no perfil do Facebook do estudante do quarto ano de Engenharia Elétrica da UNESP, Humberto Moura Fonseca; o mesmo jovem que há alguns dias morreu após ter consumido 25 doses de vodca numa festa estudantil [1]. 
Se a vodca serve para fugir da morte por tédio, o que pode levar os jovens com uma vida aparentemente bem sucedida a morrer de tédio?
O tédio não é apenas um sentimento dos jovens de hoje. Giacomo Leopardi (1798-1837), um poeta italiano do século XIX, descrevia o tédio assim, apontando inclusive suas causas: “não poder estar satisfeito com nenhuma coisa terrena, nem por assim dizer com a Terra inteira; considerar a amplitude inestimável do espaço, o número e a construção maravilhosa dos mundos, e achar que tudo é pouco e pequeno para a capacidade da sua própria alma; imaginar infinito o número dos mundos, e o universo infinito, e sentir que a alma e o nosso desejo seriam ainda maiores do que tão grande universo; e sempre acusar as coisas de insuficiência e maldade, e sentir carência e vazio, e portanto, tédio, parece-me o maior sinal de grandeza e nobreza que se vê na natureza humana” [2].
Morre-se de tédio ao ficar aprisionados nele, quando a inquietação descrita por Leopardi não leva a busca de algo que corresponda à “capacidade de sua própria alma”, e sim ao desespero (morrer de vodca). A negação da cultura contemporânea acerca da possibilidade racional e pertinência desta busca, negação tão difundida em nossas universidades, dá vazão a este desespero. Em nossas propostas educativas, não é suficiente fornecer instrução e competência técnica mesmo que de excelência, se não abrirmos espaço para horizontes de sentido totalizante. Como interpelamos os jovens de modo que eles não se sintam meras peças de engrenagens massificantes e sim portadores de um desejo infinito? É esta percepção de si como sujeitos deste desejo que impulsiona um jovem à busca, e o faz sentir protagonista de uma ação útil para si e para o mundo. 

Notas:
[*] Boredom, de pborsey, disponível no Flickr.
[1] "Melhor morrer de vodca do que de tédio", diz perfil de estudante que morreu em festa. Estado de São Paulo, 3 de março de 2015.
[2] LEOPARDI, Giacomo. Pensiero n. 68. In: LEOPARDI, Giacomo. Poesie e prose. Vol. 2. Milano: Mondadori, 1980, p. 321.

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