No dia 4 de março de
2020, padre Luigino (Luís) Valentini realizou sua última e definitiva Viagem
para a casa do Pai.
A vida toda ele viveu em
longas viagens atravessando o Oceano, sobretudo entre Itália e Brasil. Ao
Brasil, ele, missionário italiano, chegou em 1970 para servir a Igreja numa
paroquia da periferia de São Paulo (São Mateus). E ao Brasil, à Igreja do
Brasil, ao povo brasileiro e especialmente as suas crianças, dedicou a vida
inteira.
Padre Luís, no Brasil apelidado
Gigio, era um filho de dois mundos: nascido em Porto San Giorgio, na Itália, no
dia 16 de julho de 1935, se tornou em 2016 cidadão honorário da cidade de São
Paulo no Brasil, pelo reconhecimento de suas atividades educativas. Com efeito,
no Brasil construiu creches, reforços escolares, casas de acolhida e oficinas
de artesanato. E construiu laços de caridade entre Itália, Brasil e Argentina, para
sustentar essas obras, educando assim à caridade tantas pessoas que de longe e
de perto contribuíram: trabalhando nelas ou contribuindo à manutenção por meio
do apoio econômico. Dentre elas, todas criadas nas regiões periféricas das
grandes metrópoles brasileiras, lembramos: em São Paulo, a Associação Menino
Deus que atende 1070 pessoas contando com o
Centro de Educação Infantil Menino Deus, creche que atende crianças de 1
a 4 anos; o Projetinho acolhedor que atende meninos de 5 anos; dois centros
para crianças e adolescentes (6 a 14 nos); um centro para a Juventude (de 15 a
17 anos); um Núcleo de Convivência para Idosos; uma unidade de Alfabetização de
adultos; um curso de beleza e um curso de moda. Em Brasília, a Associação Mãe
dos Homens atende 154 crianças de 2 a 4 anos. Em Belo Horizonte, as Obras
Educativas Padre Giussani atendem 769 pessoas na forma de creches, escolas e
associação esportiva. Na Argentina, a Fundación cultural y Educastiva Nuestra
Señora de Lujan atende cerca de 300 pessoas. Uma obra
análoga em Camaçari, importante cidade industrial perto de Salvador, também já está em funcionamento. Além de
ter dado vida a estas obras, padre Luís acompanhava, visitava sistematicamente
e buscava apoios para cada uma delas.
Padre Gigio se fazia
presente também na vida das pessoas que encontrava como amigo, conselheiro,
sacerdote; contagiava com seu entusiasmo e envolvia em sua aventura missionária.
Por isto, ele era profundamente amado por todos os que o encontravam, no Brasil
e na Itália. O encontro com ele mudou a vida de inúmeras pessoas. Como escreveu
um deles, “nenhum de nós seria o que é sem aquela semente que continua a
germinar, incansavelmente jovem dentro de nós, seguindo um Mistério que ‘renova
a juventude’, como era evidente em Pe Luigi”.[1] “Este modo de ser, cheio de vida e de
entusiasmo, comunicava-se a quem estava próximo dele, e também nós, jovens,
vivíamos o mesmo entusiasmo e com o mesmo ímpeto missionário”, escreveu outro,
que o acompanhou quando jovem em sua missão no Brasil[2].
No campo intelectual, a
contribuição de padre Valentini no Brasil se destacou, por ter sido um dos
pioneiros da introdução da Fenomenologia no Brasil com sua tese de doutorado e
com sua participação na fundação do Centro Fenomenológico junto a Pontifica
Universidade Católica de São Paulo.[3]
Na vida da Igreja, padre
Luís buscou a seiva para alimentar sua ação missionária: a arquidiocese de
Fermo a que pertencia, o Movimento Comunhão e Libertação, que ele contribuiu
ativamente para introduzir em sua terra natal e no Brasil, a Congregação do
Amor Misericordioso e na amizade com figuras que se destacaram na vida do
catolicismo contemporâneo. Através das
vicissitudes belas ou difíceis de sua vida, como ele mesmo declara em sua
autobiografia: “A Misericórdia foi uma realidade presente em toda a minha vida”
(2017, p. 21) [4]
O que o animava nesta
dedicação incansável? Ele mesmo nos diz em seu depoimento:
“A nossa fraqueza não nos
define, não nos derrota; a nossa fraqueza é superada pela força de Deus, pela
força de Jesus Cristo que venceu a morte, venceu a coisa mais terrível que
existe; e nos diz: Eu estou convosco, estou à vossa disposição”.
Hoje o sabemos
definitivamente participe da vida de Cristo vitorioso sobre a morte.
[2] Idem, p. 102.
[3]VALENTINI, Luigino. Idéia de horizonte e mundo na fenomenologia Husserliana.
Estudos psicologia. (Campinas) [online]. 1997, vol.14, n.3, pp.49-56.;
Valentini, L. O Caminho Fenomenológico do Fazer. São Paulo: Edições Companhia
Ilimintada, 1988.
[4] VALENTINI, Luigi.
Além do mar. Além do Homem. São Paulo: Companhia Ilimitada, 2017.
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