Foto: arquivo de Obras Educativas Padre Giussani
Padre Pierluigi Bernareggi, nasceu
em Milão, Itália. Seu pai era um grande industrial do ramo do aço. Embora com
uma possibilidade de futuro brilhante, Pigi decidiu deixar, ainda muito jovem,
o conforto da família de posses, para ser missionário nas favelas de Belo
Horizonte. Chega ao Brasil em 1964, pelo impulso do
encontro com Dom Luigi Giussani, seu professor no Liceu Berchet e fundador do
grupo católico estudantil Gioventù Studentesca. Junto com Pigi chegaram
ao Brasil alguns outros jovens
missionários italianos que se instalaram nas cidades de Macapá, Belo Horizonte e São Paulo, em estreita relação com Dom
Giussani, que os acompanhava à distância. Lá ele abraçou a causa dos moradores sem-casa. Foi animador do movimento Pró-Favela
que permitiu a regulamentação dos assentamentos informais e a conquista de
títulos de propriedade para milhares de famílias da capital e região
metropolitana de Belo Horizonte. Empenho que lhe rendeu prisões, ameaças de
morte e muitos desafetos. Construiu várias igrejas nos bairros periféricos da
cidade e ao mesmo tempo também por muitos anos se dedicou ao ensino da
filosofia e da teologia na Universidade Católica da cidade.
Esta é a resposta que o padre Pigi deu a Rosa que o provocou com uma pergunta, em 15 de abril passado: como
você está vivendo este período do coronavírus?
De um lado: angústia existencial
de saber que onde não tiver acesso ao recurso técnico – sobretudo o respirador,
as pessoas morrem afogadas na água gerada pelo próprio organismo nos pulmões.
Angústia existencial, também, ao
perceber a surreal oposição entre visão personalista (salvar as pessoas) e a
visão economicista (salvar a economia) que o mundo oferece, inclusive depois de
dois mil anos de cristianismo.
Para mim, que dediquei muita parte
da minha vida à questão dos sem-casa, surge também a angústia existencial de
perceber que “a casa” não é mais (ou até nunca foi) o principal referencial de
equilíbrio e bem-viver do ser humano para grande parcela da população, que
reage negativamente à orientação sabia da Nações Unidas e dos mais sábios governantes
: ”fiquem em casa”.
Donde mais um motivo de angústia:
o espírito de desobediência às novas normas de vida em nome do próprio critério
individualista e relativista. É o que o Papa Bento XVI denunciou quando visitou
a Universidade de Ratisbona (Alemanha), onde por muitos anos tinha lecionado. É
deste relativismo individualista que nasce o maior perigo do terceiro milênio,
segundo João Paulo II: “a civilização da MORTE”.
De outro lado: diz São Francisco
de Assis no seu Canto das Criaturas: “Bendito sejais meu Senhor, pela
nossa irmã a morte corporal, da qual nenhum ser vivente pode escapar”... Para
ele, não há nenhuma realidade que Deus cria, que não traga consigo uma benção. É
assim também o coronavírus. Com efeito, onde o coronavírus aparece,
imediatamente um conjunto de medidas e faculdades humanas necessariamente
entram em ação – ciências, tecnologias, solidariedades de infinitas formas,
estruturas de apoio, pesquisas de vacina, ajudas financeiras. Os governos são
obrigados a deixar de lado muitas transações de sentido duvidoso, para apressar
ações efetivas a favor do povo... Os próprios partidos perdem a sua importância
a favor do “bem comum”. O horizonte é mais digno, decente, idealista, fraterno;
em suma, a vida é paradoxalmente mais feliz, útil, necessária, interessante e “amada”...
As próprias conversas do dia a dia tornam-se menos chatas, vazias, ocas. O
relacionamento humano se humaniza. A perspectiva final se diviniza.
É por isso que o louvor do Círio
Pascal destes dias (o Exultet ) diz assim: “Ó feliz desastre, que mereceu
tamanha reparação!”
É por isso, que nestes dias eu e
meus colegas de “Convivium Emaús” todos os dias nos encontramos para rezarmos o
terço pelo coronavírus no mundo, querendo nós também participar de tanto
trabalho bonito, de tanto espírito de serviço, da purificação de tantos
corações; queremos vivenciar este período misteriosamente inventado pelo
Criador de todas as criaturas: BENDITO SEJAIS, MEU SENHOR, PELO NOSSO IRMÃO CORONAVÍRUS!
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