Tendo encerrado, há alguns dias, o mês mariano, mas ainda dentro do Ano Mariano decretado pela Igreja do Brasil, propomos este texto de Luigi Giussani, tirado da Coleção Spirto Gentil. Em meio a todas as tentativas para se encontrar uma saída para as várias crises que vimos atravessando, não podemos perder de vista o que diz a oração citada por don Gius: “Deus, nossa força e nossa esperança, sem Vós, nada existe de válido e de santo”.
Por Luigi Giussani
Se Nossa Senhora tivesse escutado a Inacabada de Schubert, o que teria sentido, o que teria lhe provocado? Com que grande e simples compaixão teria entendido o grito do homem, que é como se não fosse, porque não é completo, não é realizado, e não sabe para onde ir. E como, com doçura, teria se deixado levar, no segundo movimento da sinfonia, a cada inflexão e a cada abertura em direção a uma possibilidade que não pode depender do homem, mas que está no próprio coração da promessa de Deus, ou da consistência da vida que Deus nos deu, como nos sugere a oração que dá o tema a uma liturgia: “Deus, nossa força e nossa esperança – consistência do hoje em movimento, voltado para o amanhã –, sem Vós, nada existe de válido e de santo”. Nossa Senhora teria percebido o profundo significado de “válido” e de “santo”, teria ficado no seu costumeiro silêncio sem limites: “Sem Vós, nada existe”. Sem Vós, não existe nada, porque aquilo que de verdade existe é válido e santo. Como sentiu ecoar em si, antecipadamente, essa oração, esse “sim”, não o grito desesperado do início da Inacabada.
Essa é a obra mais famosa de Schubert, e também é a maior: é inacabada como obra, porque materialmente não foi terminada (devido à sua morte), mas a incompletude da vida é também o tema real da sinfonia.
Notas:
[1] CHIERICI, Sandro; GIAMPAOLO, Silvia (orgs.). Spirto gentil: um invito all’ascolto dela grande musica guidati da Luigi Giussani. Milão: BUR Rizzoli, 2011, p.183-184.Traduzido sem revisão dos autores por Fábio Henrique Viana.
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