sábado, 21 de abril de 2018

Ressurreição: a exaltação da minha pessoa no amor



É muito fácil para nós compreendermos a cruz de Cristo e os acontecimentos da sua Paixão, Morte e sepultamento do que a sua Ressurreição. Os fatos descritos no Tríduo Pascal e na Semana Santa são visíveis, palpáveis, carnais. Todos podemos ver Cristo que lava os pés dos discípulos, reparte o pão e o vinho na última ceia, carrega a cruz, é flagelado e, finalmente, morre crucificado. Podemos reviver e encenar todas essas passagens da vida de Cristo. São visíveis e humanas! 
Mas, e a Ressurreição? Ninguém viu, nem há descrição alguma de como foi. É um mistério grande e insondável!
Por isso também, a tradição da Igreja, sobretudo a tradição barroca que mais deixou traços na história do Brasil, valoriza todo o sofrimento e a morte na cruz na arte, nas imagens, nas igrejas, nas procissões e tantas outras formas de devoção. Mas deixa a Ressurreição de Cristo muitas vezes na penumbra do invisível. Dessa forma, há uma hipervalorização do suplício de Cristo e uma subvalorização da sua alegria vitoriosa na Ressurreição; quase de forma a afirmar que a Semana Santa é a semana em que se celebra o sofrimento de Cristo para nós.
O grande evento de Cristo, ao contrário, e que precisa ser realmente celebrado em primeiro lugar e merece a mais alta importância, é o fato que Ele ressuscita e que Sua Ressurreição é a sua grande e última Palavra para nós. É a sua Ressurreição que devemos celebrar e não a sua crucificação! Essa afirmação é tão estranha à nossa formação católica que sentimos até um certo desconforto.
O que significa celebrar a Ressurreição de Cristo e colocá-la em primeiro lugar como objeto principal da nossa fé, como fala São Paulo? Significa, sem dúvida, conhecer bem o seu significado e o seu dinamismo na vida da Igreja. Cristo renasce para nós e em nós. 
Onde, então, devemos procurar ver a Ressurreição de Cristo? Onde ela é visível? No Espírito Santo. Precisamos aprender a reconhecê-lo na vida da Igreja e fora dela, no mundo onde há o bem, a verdade, a beleza e a afirmação da vida. E isso só é possível, concretamente, se aprendermos a invocá-lo e a reconhecê-lo também em nós. Vê-o quem o tem em si.
A Ressurreição de Cristo é a introdução definitiva do amor de Cristo em nós e no mundo. Quem busca o amor, quem o deseja e o pede, será agraciado e o verá. Não há ninguém que o invoque sinceramente que não o encontrará. O Senhor nos prometeu! 
Por isso, o Cristo ressuscitado também é visível. É uma questão de educar o olhar; fruto de uma verdadeira educação da fé. Não podemos parar no meio do caminho, e o tempo pascal não pode ser menos celebrado do que a Quaresma.
Nestes tempos de aborto, eutanásia, violência contra a vida, desprezo dos mais pobres e refugiados, e, por isso, em que um ser humano vale tão pouca coisa, é preciso mais do que nunca que nos eduquemos a pedir o Espírito Santo em nós. Quem quer que sejamos, mesmo se, no decurso dessa vida, mais parecemos tropeçar do que viver. 
Pois Cristo ressuscita exatamente para exaltar a minha pessoa no amor. Se Ele fez “tudo isso” por amor a nós, é a experiência do seu amor em nós e por nós que o mundo mais precisa hoje. Cristo não ressuscita de verdade, se não ressuscita em mim. Peçamo-lo como crianças!

Por Ana Lydia Sawaya

Notas
[1] Este texto foi originalmente publicado no Jornal O São Paulo, no dia 12 de abril de 2018. Pode ser acessado aqui

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