sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Como um raio de sol no céu nublado



Ludwig van Beethoven
Sinfonias n.5 e n.6


Como um raio de sol no céu nublado[1]

Luigi Giussani


A Quinta Sinfonia de Beethoven é a peça musical que, desde os primeiros anos da nossa experiência educativa, nos ajudou a pensar.

Cronologicamente, foi esta obra de Beethoven que coloquei para os primeiros estudantes ouvirem, os primeiros dez ou quinze que se encontravam comigo.  E o fiz para estimular neles aquela dimensão ideal e arriscada da vida, sem a qual não se faz nada, se é como todos os outros, nos entediamos como todos os outros: não é à toa que é chamada “a sinfonia do destino”. Ouvíamos, principalmente, o primeiro movimento da sinfonia, aquele do “destino que bate à porta”. O início é o irromper de um acontecimento. Todo o drama da orquestra se desenvolve a partir do acontecimento daquelas quatro notas iniciais que se repropõem continuamente. Nelas se exprime aquele destino que atravessa, na vida, a percepção da perda, da derrota ou da tristeza e se mostra, às vezes, no seu aspecto mais duro de provação ou de tentação.

A tentação é uma tempestade, como aquela descrita de modo admirável no quarto movimento da Sexta Sinfonia, para mim a mais bem sucedida de Beethoven. Aquele movimento prenuncia, antecipa e descreve a tempestade que ocorre e que passa. Passa e tudo termina na doçura das coisas que são feitas.

Diante da realidade, todavia, exite somente um modo de se comportar de modo que as coisas se tornem objeto, ou melhor, sujeito, causa daquela ternura pela qual o homem é feito: as provações que devemos enfrentar revelam, atestam a vontade educadora, pedagógica com a qual Jesus renova a expansão, a explosão, a proposição da sua grandeza. E, de fato, a devoção suscita estupor, isto é, adoração, e esta é a grande fonte da oração.

Se a verdade se comunica a você incluindo as tempestades, para superar a tempestade, você deve ser fiel àquilo a que você pertence, a que você já pertence porque você o reconheceu como verdadeiro. Agora você não o reconheceria como verdadeiro somente porque o céu está escuro para você, mas – se você é fiel – lhe acontecerá, ainda mais facilmente, de ser espectador de uma coisa grandiosa: da verdade misteriosa e eterna que lhe chega como a luz do amanhecer ou como um raio de sol no céu nublado.



[1] CHIERICI, Sandro; GIAMPAOLO, Silvia (orgs.). Spirto gentil: um invito all’ascolto dela grande musica guidati da Luigi Giussani. Milão: BUR Rizzoli, 2011, p.105 e 106.

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