Às
vezes, escutando a Nona Sinfonia de Beethoven, digo a mim mesmo: “Se todas as
coisas pudessem ser ditas com a força da beleza com que Beethoven exprime os seus
sentimentos!”.
Sem
essa perfeição, como é possível falar de coisas imensamente mais profundas?
Essa
torrente de notas que é a Nona Sinfonia, essa respeitável catedral de notas que
enche o espaço com a imponência e a perfeição da sua beleza, não é nada mais
que o eco de uma outra Beleza e Perfeição.
As
notas da sinfonia de Beethoven são uma pequenina e frágil semente, símbolo do
ímpeto grandioso que entrou no mundo através de uma semente que foi colocada no
ventre de Nossa Senhora. É ali que a alegria se tornou “fato”; é ali que a
urgência do homem, a sua busca de um destino de felicidade recebe uma resposta;
é ali que a intuição humana de uma paternidade misteriosa é sustentada pela
certeza de que tudo aquilo que o coração sugere tem um caminho definitivamente
traçado. E como a semente das notas de Beethoven é imponente aos ouvidos de
quem as escuta, assim também a semente colocada no seio de Maria é
irresistível. É como um canto irresistível, que nada impedirá, destinado a
preencher não apenas um instante de emoção estética, mas todas as expressões do
eu humano e todos os movimentos da vida do povo humano, isto é, todas as
expressões da história do homem.
Se
fosse possível falar de certas coisas com a potência intuitiva e expressiva de
um gênio como Beethoven! Mas cada um de nós pode fazer aquilo que consegue:
como as nossas crianças balbuciam, assim também nós adultos balbuciamos entre
nós as grandes coisas pelas quais somos feitos e às quais somos destinados.
Porém, um pouco as intuímos: um pouco de Beethoven existe – mais ou menos – em
cada um de nós. E também por isso, escutando as notas geniais da música de
Beethoven, o coração sempre se incendeia em nós.
Nós
somos como uma sinfonia, pequena diante daquilo que deveria ser, um pouco
mesquinha, um pouco amedrontada, um pouco intimidada. E, no entanto, em relação
à Nona Sinfonia (que, apesar da sua grandiosidade, não dura, é destinada a
desvanecer), a nossa catedral, não de notas, é feita para preencher a história.
Deste destino nós nos aproximamos obedecendo a uma tarefa, aderindo com a nossa
liberdade à tarefa que nos é confiada. E que tarefa é essa? A tarefa da vida é
a paternidade e a maternidade; isto é, chegar à maturidade do amor. A tarefa da
vida é imitar o Pai continuando o canto de Jesus na história.
Luigi Giussani
Para ouvir, use o link abaixo, copiando e colando no seu navegador
https://www.youtube.com/watch?v=JOaI93Ob2B4
[1] CHIERICI,
Sandro; GIAMPAOLO, Silvia (orgs.). Spirto
gentil: um invito all’ascolto dela grande musica guidati da Luigi Giussani.
Milão: BUR Rizzoli, 2011, p.116 e 117.
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