segunda-feira, 13 de abril de 2015

A vitória que torna o homem contente

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Os psicólogos nos dizem que nossa racionalidade consciente é apenas a superfície da alma como um todo. Mas nós somos tão solicitados por esse primeiro nível que o profundo já não consegue deixar-se sentir. Esse fato mina definitivamente a saúde do homem, pois ele já não sente o que é autêntico, não é mais ele mesmo quem vive, mas é vivido por aquilo que é casual e superficial. Em estreita conexão com isso está nossa relação com o tempo. Nossa relação com o tempo é o esquecimento. Nós vivemos o momento. Até queremos esquecer, pois não admitimos a velhice e a morte. Mas essa vontade de esquecimento é, na realidade, uma mentira que se transforma num grito agressivo pelo futuro, um grito que quer interromper o tempo. Mesmo, porém, essa visão romântica do futuro, na qual a pessoa não quer mais estar submetida ao tempo, é uma mentira que destrói o homem e o mundo. A única maneira de dominar realmente o tempo é o perdão e o reconhecimento, que aceita o tempo como um dom e o transforma em gratidão.
(...)
A força com a qual a verdade abre caminho deve ser a alegria com que ela se manifesta. A unidade não é afirmada por meio da polêmica e nem por teorias acadêmicas, mas pela irradiação da alegria pascal; ela conduz ao coração da profissão de fé: "Cristo ressuscitou". Ela conduz ao coração da existência humana, que espera essa alegria com todas as suas fibras. Assim, a alegria pascal se caracteriza como elemento essencial do ecumenismo e da missionaridade.
(...)
"Quantum potes, tantum aude": desfrute de todo o esplendor do belo, quando se tratar de expressar a alegria das alegrias. O amor é mais forte do que a morte; em Jesus Cristo, Deus está no meio de nós.
 
Extraído de:
RATZINGER, Joseph. Ser cristão na era neopagã (vol. I). Campinas: Ecclesiae, 2014, pp. 153-155.
 
Nota
[*]  FRANCESCA, Piero della. Ressurreição. Afresco, 1460, Sansepolcro.

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