terça-feira, 7 de maio de 2019

A URGENCIA DE CONSTRUIR O BEM COMUM Uma missão para a Igreja


         «Sem perseguir com constância, empenho e inteligência o bem comum, nem mesmo os indivíduos podem aproveitar seus direitos e alcançar suas mais nobres aspirações, porque faltaria o espaço ordenado e civilizado em que viver e operar " (Papa Francisco, discurso para a cidade de Cesena. Italia)
         Estas palavras do Papa Francisco iluminam também os atuais desafios da vida política do Brasil.
         É questão crucial a construção desse espaço a que o Papa Francisco se refere.
Em primeiro lugar, cada ser humano carrega em si “nobres aspirações”, afirma o Papa: a estima por si e pelo outro nasce do reconhecimento deste ser que cada um é: ser humano.  Sujeito portador de exigências e evidências constitutivas que movem cada um em sua relação com a realidade; e também movem os povos em busca de sua felicidade, como Giussani lembra em “O senso religioso”.  A afirmação do ser pessoal do homem iniciou na tradição do Ocidente pelo reconhecimento dessa característica propriamente humana. Em um dos documentos fundantes da filosofia grega, o diálogo do Fedon, Sócrates lembra a seus interlocutores que a busca da beleza, da verdade, da justiça, do amor são as evidencias que o ser humano é dotado de uma alma racional, que transcende a corporeidade, e que o diferencia dos demais seres vivos. Se faltar essa estima para si e para o outro, não é possível construir um mundo humano.
Mas isto não é suficiente.  
       Com efeito, apesar de cada um buscar a realização de suas aspirações autênticas, de paz, justiça, verdade, etc , através de todas as ações, seja privadas ou públicas e percorrendo diferentes caminhos, não podemos  ingenuamente pensar que alcançaremos esse objetivo “ sem perseguir com constância, compromisso e inteligência, o bem comum”.  As dificuldades, incompreensões, confusões, etc  que permeiam a vida social e política do Brasil nestes tempos, põem isto em grande evidencia.
      É preciso de âmbitos onde as aspirações de cada um possam se apoiar numa rede de relações humanas e sociais em que a pessoa possa ter consciência de si mesma, de suas necessidades e de seus direitos.  O bem comum é o terreno para a construção de um espaço autenticamente político na sociedade: um “espaço ordenado e civilizado”. 
       Mais uma vez, a filosofia grega mostrou para a humanidade que o ser propriamente humano precisa de um espaço em que sua vida possa ser afirmada: a polis. 
     Sem a cura e a valorização das relações que constituem as pessoas num povo, não há possibilidade também de valorização dos indivíduos, nem de afirmação e preservação de seus direitos.  O grande desafio neste momento é cuidar de preservar e de educar uma dimensão que é constitutiva da vida de um País e que demanda a corresponsabilidade de cada um: um patrimônio de bem comum a todos; e um método para construí-lo e preserva-lo: não a contraposição entre ideologias, mas o dialogo entre sujeitos, pessoas e comunidades que sejam.  
     A Igreja no mundo, e no Brasil, se propõe, ontem como hoje, como o lugar educativo para esse diálogo, para essa construção.  Se o Brasil apesar de toda a violência que atravessou e atravessa sua história, apesar de todas as diferenças entre suas componentes étnicas, sociais, culturais, etc. se constituiu como um povo, o devemos a essa presença a que os missionários deram carne, desde o século XVI. Hoje, temos que dar continuidade a esse caminho.  Pois sabemos que ele carrega em si, no tempo humano, uma indomabilidade, uma criatividade e uma capacidade de acolhida e de misericórdia, que lhe vem do próprio Deus.  Assim poderemos testemunhar aquela “constância, empenho e inteligência” a que Papa Francisco nos convoca.

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