segunda-feira, 16 de março de 2015

Desejo de participação, de afirmação da cidadania...

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... é o que vimos nas manifestações de rua desse domingo, 15 de março de 2015. Há 30 anos, este mesmo dia foi cenário da manifestação Diretas já!, que marcou a derrubada da ditadura militar. Ainda hoje, após 30 anos, há a necessidade de afirmar a cidadania contra um poder que a reduz. 
Por que chegamos a este ponto? Nestes 30 anos, o que falhou para que, hoje, o Brasil seja conhecido como uma “democracia imperfeita”? Imperfeita porque, segundo cientistas políticos, alguns dos problemas principais da nação persistem: desigualdade social, corrupção, pouca participação política, direito à saúde e à educação também desigual, falta de segurança etc.
Os principais protagonistas do cenário político brasileiro, desde 1984, se preocuparam em garantir a estabilidade da economia através, por exemplo, do plano real e em amenizar as diferenças, construindo convergências políticas baseadas em acordos de gabinete, em troca de favores, em coniventes silêncios diante dos erros, em compatibilização e priorização de interesses particulares de indivíduos, famílias, grupos e partidos.
Mas não se preocuparam em criar espaços de participação política e de educação da população à cidadania consciente e responsável. Não se preocuparam com a educação, a grande moda da renovação política de um país. 
Em lugar de uma educação efetiva, proporcionaram formas de ideologização da população que, em lugar de tornar os cidadãos protagonistas de juízos e ações, encheram as cabeças, sobretudo dos jovens, com chavões preconcebidos e demagógicos. Posição perigosa que sempre pode desandar num “totalitarismo político”, o qual “pode assumir muitas formas, inclusive de certa democracia liberal, ou do capitalismo sem regras, ou da intransigência revolucionária, mais ou menos camuflada de todo tipo de manipulação arbitrária da palavra povo [...]. Em qualquer um dos casos, o totalitarismo político deve ser entendido como derivado do dogmatismo cultural” [1]. 
Em lugar de incentivar a construção e a educação ao trabalho digno, satisfizeram, de um lado, os interesses particulares de grandes grupos de poder econômico e, de outro, se preocuparam em satisfazer às necessidades materiais da população dando incentivo ao consumo. O brasileiro então se tornou consumista e passivo. 
A responsabilidade recai sobre aquelas instâncias que deveriam ter impulsionado este trabalho educativo, e não o fizeram adequadamente: igrejas, universidades, partidos etc. A falha neste processo é a conta a ser paga hoje pelo país como um todo e por cada cidadão.
Oxalá o impasse da situação atual sirva para uma grande reflexão e correção. A marcha da história acontece sempre por novos inícios. 
Que o povo brasileiro seja povo e não massa manipulável (com todas as consequências de teor totalitário que isto implicaria) irá depender de um trabalho educativo real e de uma valorização de todas aquelas instâncias e instituições e grupos sociais que a isto se propõem. Irá depender da construção de um pacto social efetivo entre as diversas componentes da sociedade, (maioritárias ou minoritárias que sejam) em torno do que se reconhece como bem comum. Irá depender de uma administração da justiça, autonomizada das pressões políticas, que demonstre uma clara opção pelo bem e, portanto, pela correção efetiva do mal. Irá depender de como o Estado e seus poderes valorizem a sociedade em sua composição plural, e se coloquem a serviço da sociedade ao invés de usá-la em função do fortalecimento de um poder que lhe é alheio. Em suma, um Estado a serviço da sociedade; e não um Estado preocupado prioritariamente em consolidar e aumentar seu próprio poder. 
Esperamos que os atos do dia 15 de março de 2015, que mobilizaram mais de um milhão de brasileiros pelo país a fora, revigorem a memória e a responsabilidade de todos.

Notas
[*] Foto de Paulo R. A. Pacheco, 15 de março de 2015.
[1] GIUSSANI, Luigi. O eu, o poder, as obras. São Paulo: Cidade Nova, 2001, p. 248.

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