O texto de Luigi Giussani que aqui apresentamos é parte da obra L'autocoscienza del cosmo (Autoconsciência do cosmo, em tradução livre) publicada em 2000, pela BUR (Milão), quarto volume da série Quasi TISCHREDEN. Tischreden é uma palavra alemã que significa conversa ao redor da mesa e inspira-se nos encontros dessa natureza realizados por Martinho Lutero, com um grupo de discípulos para explicitar seu pensamento. No caso das Quasi TISCHREDEN de Giussani, trata-se de diálogos à mesa com um grupo de jovens empenhados no caminho vocacional da virgindade. Ao todo, a coleção reúne sete volumes. O volume quatro contém conversas dedicadas ao aprofundamento do livro do autor, O senso religioso, já publicado no Brasil (Brasília: Universa, 2009).
Como cresce a consciência de mim? O que é a consciência de mim? É preciso saber o que é a consciência de si mesmo para poder perguntar-se como cresce. [...] Como cresce a consciência de mim? A consciência de mim cresce tomando cada vez mais consciência daquilo que eu sou: mas isto repete a mesma coisa, apenas com palavras diferentes! Tomar consciência de mim quer dizer tomar consciência do relacionamento com a minha origem. [...] A consciência do relacionamento com a própria origem, para um ser como o eu humano, implica a consciência daquilo de que a origem é composta, é feita. Porque: “Consciência de mim” igual a “consciência do relacionamento com a origem”, igual a “consciência daquilo de que a origem é feita” [1].
Do que é feita a nossa origem? Do relacionamento com algo infinito, tanto é verdade que é relacionamento com um destino de felicidade, com um horizonte de verdade, com um horizonte de justiça etc. É a natureza da origem aquilo de que devemos ter consciência!
Se vocês estudarem toda a filosofia, se estudarem toda a história da filosofia, tudo é reconduzível, no fundo, a este problema: de que natureza é a origem? E, na megalomania da fantasia humana, a origem é identificada com a totalidade. Chama-se panteísmo: seja totalidade como matéria (panteísmo materialista), seja totalidade como espírito (idealismo). A origem é o mistério da totalidade idealística ou materialística, seja ela entendida de uma forma ou de outra.
Pelo contrário, o homem normal, aquele que “não viaja” – quer dizer, que não tem filosofias na cabeça (que não são “as filosofias”; são os critérios com que uma pessoa, no fundo no fundo, vive) –, entende que o seu nexo com a origem é o relacionamento com algo que o faz desejar e aspirar e tender: o coloca em dinamismo. É o relacionamento com algo extremamente dinâmico, que o faz tender, desejar, protender para um horizonte ilimitado, que nunca se consegue alcançar definitivamente, mas que é um ideal de felicidade, de verdade, de justiça; digamos, um ideal. É um dinamismo ideal para algo bonito e bom, do qual não se sabe como tocar as margens.
Entende-se isto em qualquer gesto que o homem faça. É uma das páginas mais agudas d’O senso religioso que ninguém manda destacar: diz que a natureza de um gesto se compreende na ação (e isto é lembrado por muitos), quando o eu está em ação [2]; mas isto quer dizer que em qualquer ação está presente a aspiração ao infinito, está presente o desejo para algo bom e verdadeiro, do qual não se consegue imaginar a linha de início, a margem inicial [3].
Portanto não a origem como algo que totaliza cada realidade, confundindo cada coisa em um todo sem distinções, abstrato ou material (panteísmo), mas a origem como algo dinâmico que o lança para algo preciso e mesmo assim, inalcançável por você, algo preciso, que tem características precisas, porque este dinamismo original é carregado de desejos infinitos, de desejos bem coloridos: o desejo da verdade, da felicidade e da justiça. Por isso não “totaliza”, realizando uma “mistura” geral, mas individuando – e sempre mais duramente individuando – algo bem preciso em si mesmo, mesmo se desesperadamente inalcançável pelo eu. É a ideia de mistério: o mistério como realidade de verdade – realidade de verdade! –, que não pode ser componível em uma totalização presumida com as árvores, com as plantas, com os porquinhos, etc. Não, não pode!
Como alcançar uma maior consciência de mim? Alcançar uma maior consciência de si, significa alcançar uma maior consciência da própria origem: acima de tudo da própria origem. Dou-me conta, então, que a minha origem é como uma semente de potente dinamismo que não me deixa em paz e me impulsiona para um termo desconhecido, rumo a uma margem que está além de tudo aquilo que vejo, que está além de tudo aquilo que toco, que está além de tudo aquilo que faço; algo que está além de tudo, que não é possível ser uniformizado ao todo, como faz o panteísmo, mas que é absolutamente diverso de tudo. Tanto é verdade que esta aspiração à bondade, à verdade, à justiça, à felicidade, é aquilo que torna o homem tão diverso de tudo. Não há cachorro que tenha as mesmas características!
Portanto, a maior consciência de si implica uma descoberta maior, mais aguda, mais atenta do problema original, daquilo do qual o eu provém, da semente da qual o eu provém. E se poderia superficialmente dizer que esta origem é o nada, porque antes não havia o eu. E, pelo contrário, não é verdade que veio do “não existia”, porque do “não existia” não deriva nada. Vem de uma semente que, durante a noite, foi escondida dentro da terra. Ninguém se deu conta disso, ninguém podia dar-se conta disso. E, ao alvorecer, aquela semente era um broto que chamava atenção, porque era uma criança. Mas – caramba! – depois de poucos anos, estava bem formada! Era realmente uma criança no sentido real da palavra: um ser humano, que queria, que desejava, que perguntava, que ficava contente ou não.
Tomar consciência da própria origem é tomar consciência dessa semente: é tomar consciência das exigências constitutivas do coração. A Bíblia chama essa semente de “coração”.
E, partindo desta semente, entende-se; mas entende-se somente se aceitamos olhar até as últimas consequências: as últimas consequências dessa semente da qual derivamos, as últimas consequências são a realização dos conteúdos de desejo que estão em nós. Essa semente está repleta de desejos, que podemos reunir em certas categorias. Nós dizemos: “Está repleta de desejos”. Fiquemos atentos, que não é suficiente dizer assim! Somos obrigados a dizer que a semente nos impulsiona para algo que realiza estes desejos, caso contrário teria um parentesco com o nada insuportável, teria um parentesco com o nada irracional, voltaria ao nada, voltaria a propor o nada.
Essa tomada de consciência da semente da qual se nasce, acontece a cada instante de relacionamento com a realidade que está à nossa volta, com uma realidade que está à nossa volta, com o conjunto das circunstâncias. Assim a semente, posta na terra durante a noite, cresce porque toma o humor, choca-se contra uma pedra, choca-se contra outra. Essa tomada de consciência daquilo de que somos feitos, essa tomada de consciência de si como tomada de consciência do relacionamento com a origem, descobre a origem como fonte de um dinamismo de desejo que fixa algo de misterioso e real, em que estes desejos encontrem satisfação. E esse processo acontece “chocando-se” contra a realidade que nos circunda. Se você pega uma semente e a põe em cima [de uma] cabeça [...] mumificada... deixemos a semente aí um mês, dois meses, dois anos, três anos, quarenta anos, duzentos anos, dois mil e cem anos: permanece sempre tal e qual! Por quê? Porque não tem contato com circunstâncias diversas.
É através do relacionamento com a realidade. A realidade é um termo abstrato para indicar aquilo que acontece instante após instante, aquilo que acontece, o acontecimento. É por isso que o filósofo, crítico famoso de Péguy, Finkielkraut dizia que o acontecimento é a palavra mais importante para o conhecimento [4]: porque é a partir daquilo que acontece que a semente se move e se torna diferente e torna diferente também a coisa que toca.
De qualquer forma, o segundo fator é o impacto com a realidade [...]. Esta semente se desenvolve com o impacto com a realidade: se não lhe dá água, se não tiver sol, se não tiver terra, não se desenvolve. Então, a consciência de si como consciência da própria origem, deve tornar-se consciência da própria personalidade, da própria individualidade em ação dentro das circunstâncias. É possível que sejamos abstratos em conceber as circunstâncias e então não temos consciência daquilo que somos, perdemos a consciência de nós mesmos. É preciso ser realista.
É preciso tomar consciência das circunstâncias... Não das circunstâncias, mas do eu nas circunstâncias, porque, ao contrário, tomar consciência das circunstâncias é uma pretensão abstrata. Conhecer a situação através dos jornais é uma pretensão abstrata; conhecer a situação através da TV é uma pretensão abstrata, porque falta o eu, o eu em contato com aquilo que acontece. Por isso, a TV e a imprensa são os primeiros responsáveis pela destruição de um povo ou da pretendida criação de um povo diverso. Que diferença! Que diferença entre Deus que cria um povo diferente através da semente de um homem (Abraão, Moisés), Deus que se expressa em palavra, em gesto que arrasta, e estes jornais e esta TV, estas leis e decretos de certos políticos ou de certos juízes, que têm a pretensão de criar um povo, mas no formol. É abstrato: quanto mais as mídias têm a pretensão de ser concretas, tanto mais são abstratas, porque a questão é pôr o eu em contato com a realidade, não com aquilo que o jornalista diz.
Porém, há mais uma coisa, que é a mais bonita e a mais importante, porque sem essa terceira, a primeira [...] nos torna ansiosos; e a segunda, o impacto com as circunstâncias, se torna raiva. A primeira ânsia e a segunda raiva: nervosismo e raiva.
Então, o que é a terceira coisa? Está ali aonde se joga a última – a última! – capacidade do homem como relacionamento com aquilo para o qual o desejo o impulsiona. A terceira coisa é a afeição! Cresce a consciência de si, se crescer a afeição, quer dizer se crescer a capacidade de acolher e aderir a si, e de acolher e aderir àquilo que nos circunda, por aquilo que ele é em relação a nós; o cume daquilo que nos circunda em relação a nós é tudo aquilo que é idêntico a nós: os outros, os outros homens. Em suma, cresce a consciência de si, amadurece a consciência de si, quanto mais amadurece a capacidade de afeição.
Mas, o que é a afeição? É aderir ao ser, isto é, afirmar a coisa que você tem na sua frente por aquilo que ela verdadeiramente é, afirmar o outro por aquilo que é. É afirmar o outro, por isso é a coisa mais difícil, porque para afirmar o outro você deve esquecer aquilo que você já tem em mente sobre o outro ou esquecer aquilo que você já tem em mente naquele momento. É rasgar algo que você é: para levá-lo adiante, a afeição lhe faz rasgar algo, talvez um rasgo bouleversant, perturbador.
Afeição, ou amor, capacidade de amar, capacidade de amor. Primeiro, amor a si, porque o primeiro impacto é consigo mesmo. Mas “si” não é um si abstrato: é um amor a si conforme o nexo com a origem de que se tem consciência, conforme o nexo com a origem e, portanto, conforme as modalidades com que se enfrentam todas as circunstâncias: o próprio eu concreto, enfim.
Então, concluindo: a consciência de si aumenta como maior tomada de consciência do relacionamento com a origem; jogada nos relacionamentos com as circunstâncias reais (assim como acontecem: reais, caso contrário não é mais o eu, mas o parecer dos outros); e aumenta quanto mais cresce o amor a si e portanto ao outro na medida em que é, ou seja, quanto mais cresce o amor ao ser, àquilo que é.
Do que é feita a nossa origem? Do relacionamento com algo infinito, tanto é verdade que é relacionamento com um destino de felicidade, com um horizonte de verdade, com um horizonte de justiça etc. É a natureza da origem aquilo de que devemos ter consciência!
Se vocês estudarem toda a filosofia, se estudarem toda a história da filosofia, tudo é reconduzível, no fundo, a este problema: de que natureza é a origem? E, na megalomania da fantasia humana, a origem é identificada com a totalidade. Chama-se panteísmo: seja totalidade como matéria (panteísmo materialista), seja totalidade como espírito (idealismo). A origem é o mistério da totalidade idealística ou materialística, seja ela entendida de uma forma ou de outra.
Pelo contrário, o homem normal, aquele que “não viaja” – quer dizer, que não tem filosofias na cabeça (que não são “as filosofias”; são os critérios com que uma pessoa, no fundo no fundo, vive) –, entende que o seu nexo com a origem é o relacionamento com algo que o faz desejar e aspirar e tender: o coloca em dinamismo. É o relacionamento com algo extremamente dinâmico, que o faz tender, desejar, protender para um horizonte ilimitado, que nunca se consegue alcançar definitivamente, mas que é um ideal de felicidade, de verdade, de justiça; digamos, um ideal. É um dinamismo ideal para algo bonito e bom, do qual não se sabe como tocar as margens.
Entende-se isto em qualquer gesto que o homem faça. É uma das páginas mais agudas d’O senso religioso que ninguém manda destacar: diz que a natureza de um gesto se compreende na ação (e isto é lembrado por muitos), quando o eu está em ação [2]; mas isto quer dizer que em qualquer ação está presente a aspiração ao infinito, está presente o desejo para algo bom e verdadeiro, do qual não se consegue imaginar a linha de início, a margem inicial [3].
Portanto não a origem como algo que totaliza cada realidade, confundindo cada coisa em um todo sem distinções, abstrato ou material (panteísmo), mas a origem como algo dinâmico que o lança para algo preciso e mesmo assim, inalcançável por você, algo preciso, que tem características precisas, porque este dinamismo original é carregado de desejos infinitos, de desejos bem coloridos: o desejo da verdade, da felicidade e da justiça. Por isso não “totaliza”, realizando uma “mistura” geral, mas individuando – e sempre mais duramente individuando – algo bem preciso em si mesmo, mesmo se desesperadamente inalcançável pelo eu. É a ideia de mistério: o mistério como realidade de verdade – realidade de verdade! –, que não pode ser componível em uma totalização presumida com as árvores, com as plantas, com os porquinhos, etc. Não, não pode!
Como alcançar uma maior consciência de mim? Alcançar uma maior consciência de si, significa alcançar uma maior consciência da própria origem: acima de tudo da própria origem. Dou-me conta, então, que a minha origem é como uma semente de potente dinamismo que não me deixa em paz e me impulsiona para um termo desconhecido, rumo a uma margem que está além de tudo aquilo que vejo, que está além de tudo aquilo que toco, que está além de tudo aquilo que faço; algo que está além de tudo, que não é possível ser uniformizado ao todo, como faz o panteísmo, mas que é absolutamente diverso de tudo. Tanto é verdade que esta aspiração à bondade, à verdade, à justiça, à felicidade, é aquilo que torna o homem tão diverso de tudo. Não há cachorro que tenha as mesmas características!
Portanto, a maior consciência de si implica uma descoberta maior, mais aguda, mais atenta do problema original, daquilo do qual o eu provém, da semente da qual o eu provém. E se poderia superficialmente dizer que esta origem é o nada, porque antes não havia o eu. E, pelo contrário, não é verdade que veio do “não existia”, porque do “não existia” não deriva nada. Vem de uma semente que, durante a noite, foi escondida dentro da terra. Ninguém se deu conta disso, ninguém podia dar-se conta disso. E, ao alvorecer, aquela semente era um broto que chamava atenção, porque era uma criança. Mas – caramba! – depois de poucos anos, estava bem formada! Era realmente uma criança no sentido real da palavra: um ser humano, que queria, que desejava, que perguntava, que ficava contente ou não.
Tomar consciência da própria origem é tomar consciência dessa semente: é tomar consciência das exigências constitutivas do coração. A Bíblia chama essa semente de “coração”.
E, partindo desta semente, entende-se; mas entende-se somente se aceitamos olhar até as últimas consequências: as últimas consequências dessa semente da qual derivamos, as últimas consequências são a realização dos conteúdos de desejo que estão em nós. Essa semente está repleta de desejos, que podemos reunir em certas categorias. Nós dizemos: “Está repleta de desejos”. Fiquemos atentos, que não é suficiente dizer assim! Somos obrigados a dizer que a semente nos impulsiona para algo que realiza estes desejos, caso contrário teria um parentesco com o nada insuportável, teria um parentesco com o nada irracional, voltaria ao nada, voltaria a propor o nada.
Essa tomada de consciência da semente da qual se nasce, acontece a cada instante de relacionamento com a realidade que está à nossa volta, com uma realidade que está à nossa volta, com o conjunto das circunstâncias. Assim a semente, posta na terra durante a noite, cresce porque toma o humor, choca-se contra uma pedra, choca-se contra outra. Essa tomada de consciência daquilo de que somos feitos, essa tomada de consciência de si como tomada de consciência do relacionamento com a origem, descobre a origem como fonte de um dinamismo de desejo que fixa algo de misterioso e real, em que estes desejos encontrem satisfação. E esse processo acontece “chocando-se” contra a realidade que nos circunda. Se você pega uma semente e a põe em cima [de uma] cabeça [...] mumificada... deixemos a semente aí um mês, dois meses, dois anos, três anos, quarenta anos, duzentos anos, dois mil e cem anos: permanece sempre tal e qual! Por quê? Porque não tem contato com circunstâncias diversas.
É através do relacionamento com a realidade. A realidade é um termo abstrato para indicar aquilo que acontece instante após instante, aquilo que acontece, o acontecimento. É por isso que o filósofo, crítico famoso de Péguy, Finkielkraut dizia que o acontecimento é a palavra mais importante para o conhecimento [4]: porque é a partir daquilo que acontece que a semente se move e se torna diferente e torna diferente também a coisa que toca.
De qualquer forma, o segundo fator é o impacto com a realidade [...]. Esta semente se desenvolve com o impacto com a realidade: se não lhe dá água, se não tiver sol, se não tiver terra, não se desenvolve. Então, a consciência de si como consciência da própria origem, deve tornar-se consciência da própria personalidade, da própria individualidade em ação dentro das circunstâncias. É possível que sejamos abstratos em conceber as circunstâncias e então não temos consciência daquilo que somos, perdemos a consciência de nós mesmos. É preciso ser realista.
É preciso tomar consciência das circunstâncias... Não das circunstâncias, mas do eu nas circunstâncias, porque, ao contrário, tomar consciência das circunstâncias é uma pretensão abstrata. Conhecer a situação através dos jornais é uma pretensão abstrata; conhecer a situação através da TV é uma pretensão abstrata, porque falta o eu, o eu em contato com aquilo que acontece. Por isso, a TV e a imprensa são os primeiros responsáveis pela destruição de um povo ou da pretendida criação de um povo diverso. Que diferença! Que diferença entre Deus que cria um povo diferente através da semente de um homem (Abraão, Moisés), Deus que se expressa em palavra, em gesto que arrasta, e estes jornais e esta TV, estas leis e decretos de certos políticos ou de certos juízes, que têm a pretensão de criar um povo, mas no formol. É abstrato: quanto mais as mídias têm a pretensão de ser concretas, tanto mais são abstratas, porque a questão é pôr o eu em contato com a realidade, não com aquilo que o jornalista diz.
Porém, há mais uma coisa, que é a mais bonita e a mais importante, porque sem essa terceira, a primeira [...] nos torna ansiosos; e a segunda, o impacto com as circunstâncias, se torna raiva. A primeira ânsia e a segunda raiva: nervosismo e raiva.
Então, o que é a terceira coisa? Está ali aonde se joga a última – a última! – capacidade do homem como relacionamento com aquilo para o qual o desejo o impulsiona. A terceira coisa é a afeição! Cresce a consciência de si, se crescer a afeição, quer dizer se crescer a capacidade de acolher e aderir a si, e de acolher e aderir àquilo que nos circunda, por aquilo que ele é em relação a nós; o cume daquilo que nos circunda em relação a nós é tudo aquilo que é idêntico a nós: os outros, os outros homens. Em suma, cresce a consciência de si, amadurece a consciência de si, quanto mais amadurece a capacidade de afeição.
Mas, o que é a afeição? É aderir ao ser, isto é, afirmar a coisa que você tem na sua frente por aquilo que ela verdadeiramente é, afirmar o outro por aquilo que é. É afirmar o outro, por isso é a coisa mais difícil, porque para afirmar o outro você deve esquecer aquilo que você já tem em mente sobre o outro ou esquecer aquilo que você já tem em mente naquele momento. É rasgar algo que você é: para levá-lo adiante, a afeição lhe faz rasgar algo, talvez um rasgo bouleversant, perturbador.
Afeição, ou amor, capacidade de amar, capacidade de amor. Primeiro, amor a si, porque o primeiro impacto é consigo mesmo. Mas “si” não é um si abstrato: é um amor a si conforme o nexo com a origem de que se tem consciência, conforme o nexo com a origem e, portanto, conforme as modalidades com que se enfrentam todas as circunstâncias: o próprio eu concreto, enfim.
Então, concluindo: a consciência de si aumenta como maior tomada de consciência do relacionamento com a origem; jogada nos relacionamentos com as circunstâncias reais (assim como acontecem: reais, caso contrário não é mais o eu, mas o parecer dos outros); e aumenta quanto mais cresce o amor a si e portanto ao outro na medida em que é, ou seja, quanto mais cresce o amor ao ser, àquilo que é.
Notas:
[*] SANDERCOCK, Cameron. Infinity. Disponível em: http://rebloggy.com/post/me-art-people-light-australia-sky-landscape-featured-canon-space-stars-portrait/80776084407. Acesso em 01 set. 2015.
[1] Traduzido de GIUSSANI, Luigi. Coscienti di sé. In: GIUSSANI, Luigi. L'autocoscienza del cosmo (pp. 95-104). Milano: BUR, 2000.
[2] Cf. GIUSSANI, Luigi. O senso religioso. Brasília: Universa, 2009, pp. 60-62
[3] Cf. GIUSSANI, 2009, pp. 90-91
[4] Cf. FINKIELKRAUT, Alain. Tireró Péguy fuori dal ghetto, 30Giorni, n. 6, jun/1992, pp. 58-61. Cf. também GIUSSANI, Luigi. Em caminho. In: GIUSSANI, Luigi. É, se opera. São Paulo: 30 Dias (suplemento do n. 6, junho), 1994.
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