quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

A busca do destino como epopeia

Refletindo sobre o momento atual brasileiro – de crise moral e política – e sobre o tempo de espera inaugurado com o início do Advento, propomos mais um texto da coleção Spirto Gentil, no qual Luigi Giussani nos lembra que “um povo nasce como companhia de homens que se põem juntos à procura do seu destino. E será a visão de um bem comum não genericamente entendido a manter um povo unido: aquilo que dá personalidade a um povo é um ideal, um bem comum como ideal, para além de todos os interesses possíveis e as necessidades a satisfazer”. Para falar dos Cantos Populares Russos, o autor ressalta ainda como eles buscam exprimir “o homem chamado à fé, mesmo que não o saiba”.






Por Luigi Giussani

O aspecto mais significativo para mim dos cantos populares russos é que eles nunca são o produto de um fenômeno individualista, mas fazem sempre referência a um acontecimento que tem como sujeito a pessoa como parte de um povo [1]. Aqui está, de fato, a diferença profunda entre indivíduo e pessoa: a pessoa é um indivíduo na medida em que pertence a um povo, isto é, a um pedaço de história paradigmático, no qual todo o fenômeno da história se realiza em um segmento circunstanciado de tempo e de espaço. Um povo nasce como companhia de homens que se põem juntos à procura do seu destino. E será a visão de um bem comum não genericamente entendido a manter um povo unido: aquilo que dá personalidade a um povo é um ideal, um bem comum como ideal, para além de todos os interesses possíveis e as necessidades a satisfazer.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Tempo de espera, vigilância, paciência e esperança

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O tempo do Advento ou tempo da espera da vinda de Deus na carne, é um tempo litúrgico que tem a finalidade de nos estimular a experimentar a espera, aprender a vigilância (ou seja, a prestar atenção nas coisas que vivemos), a ter paciência e confiar com esperança que o Senhor conduz firme e completamente a história dos seres humanos, trabalhando divinamente (como Ele sabe fazer) a nosso favor.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Hannah Arendt, 110 anos


No último dia 20 de novembro, o jornal O Estado de São Paulo publicou, em sua sessão "Opinião", um texto do jurista Celso Lafer, que foi ministro das Relações Exteriores no Governo Collor. No artigo, intitulado "Hannah Arendt, 110 anos", Lafer mostra como o tempo confirmou a fecundidade da reflexão arendtiana. Propomos a leitura desse artigo.

Por Celso Lafer
Decorridos 110 anos do nascimento de Hannah Arendt, existe generalizado consenso, nos mais diversificados quadrantes culturais, sobre a importância e o significado da sua reflexão para o entendimento e análise do mundo atual. Por isso se pode dizer que ela adquiriu o status de um clássico, cuja obra nunca termina de dizer aquilo que tem para dizer, para recorrer à formulação de Italo Calvino. Daí o número crescente de livros dedicados à sua obra que adensam anualmente, a partir de distintas perspectivas, a bibliografia arendtiana.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Cláudio Pastro: oblato beneditino

A afiliação de Cláudio Pastro, Irmão Martinho, como oblato beneditino, no Mosteiro Nossa Senhora da Paz

Por Ir. Martha Lúcia Ribeiro Teixeira, OSB [1]


Era o dia 21 de julho de 2004, um dia lindo e frio de inverno, em que tivemos a bela celebração dos 30 anos de fundação do nosso Mosteiro Nossa Senhora da Paz. Quem viera presidir a nossa Celebração Eucarística tinha sido Dom Arquiabade Emanuel D’Able do Amaral, na ocasião, Abade Presidente da Congregação Beneditina do Brasil. Nosso amigo, irmão e benfeitor Cláudio Pastro aqui estava, com um grupo de amigos do Mosteiro. Após o almoço fui ao encontro deles, que conversavam do lado de fora, ao sol. Uma pergunta me ardia no coração... e ao aproximar-me do Cláudio lhe perguntei “à queima roupa”: Cláudio, por que você não se torna oblato de nosso Mosteiro? A resposta veio, também, imediata: Sim, com muita alegria! Já desejava isso há tempos!

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Terremotos e civilizações

 

Nos últimos meses, fortes terremotos devastaram amplas regiões da Itália central. Se o primeiro evento sísmico, do dia 24 de agosto, foi amplamente noticiado pelos jornais brasileiros pela perda de elevado número de vidas humanas, os demais também graves tremores – ocorridos nos meses de outubro e novembro – foram informados muito rapidamente. Nenhum aceno foi feito à gravíssima perda do patrimônio histórico-cultural, social, artístico e religioso, que ocorreu e ainda está ocorrendo. Buscando superar este descaso, tentamos aqui ilustrar a importância das regiões atingidas para a tradição cultural do Ocidente, sobretudo para suas raízes cristãs.

domingo, 30 de outubro de 2016

Do sofrimento, um bem...


Palavras do arcebispo Alexander K. Sample, de Portland (Oregon), em visita aos monges do mosteiro de Núrsia, cuja catedral ruiu hoje, dia 30 de outubro de 2016, em decorrência do forte terremoto que atingiu mais uma vez a região. A catedral surgiu sobre a casa onde morou Bento de Núrsia, o fundador da Ordem Beneditina: 
Deus tirará deste sofrimento o bem para vocês e este terremoto tornar-se-á a pedra angular sobre a qual gerações de monges construirão sua vida monástica.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Projeto de Lei “Escola sem Partido”: subsídios para um juízo 2


Dando continuidade à postagem anterior, queremos apresentar, hoje, um segundo subsídio para um juízo acerca do Projeto de Lei 193/16. Diz respeito ao lugar que a Família deve ocupar quando o que está em jogo é a educação.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Projeto de Lei “Escola sem Partido”: subsídios para um juízo 1


Há algum tempo, a mídia vem dando visibilidade a uma discussão que já ocorre em setores da sociedade civil brasileira faz anos. Não se trata apenas de um debate nacional – visto que na Europa e nos Estados Unidos é já um tema ampla e longamente debatido, cujas consequências ainda não se delinearam com precisão, mas já começam a mostrar resultados concretos. Tampouco se trata de questão circunscrita a estratos restritos, especializados, da vida social brasileira, mas interessa a todos que, direta ou indiretamente, estão envolvidos com a educação. O debate ganhou algum espaço na mídia especialmente quando o Senador Magno Malta propôs, em 2016, o Projeto de Lei 193 (PL 193/16) [1], que acabou conhecido como “Projeto Escola sem Partido” [2]. Projeto este que, em setembro de 2016 – um mês depois de proposto aos senadores –, já contava, na consulta pública aberta pelo Senado Federal, com a opinião de 380 mil cidadãos: um recorde, desde que foi criada, em 2013, a ferramenta on-line de consulta pública dos projetos de lei em tramitação na casa legislativa [3].

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Cláudio Pastro (1948-2016)


Nascido em 16 de outubro de 1948, em São Paulo, faleceu na última quarta-feira, dia 19 de outubro de 2016, às 02h26min, no Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo SP, o artista sacro Cláudio Pastro. O velório e o enterro aconteceram, no mesmo dia, no cemitério do Mosteiro Nossa Senhora da Paz, em Itapecerica da Serra/SP.
Cláudio Pastro, que estudou arte na Abbaye Notre Dame de Tournay (França), no Museu de Arte Sacra da Catalunha (Espanha), na Academia de Belas Artes Lorenzo de Viterbo (Itália), na Abadia Beneditina de Tepeyac (México) e no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, é considerado, por especialistas em arte sacra, no Brasil e no exterior, o brasileiro, atualmente, mais expressivo nessa área. Realizou diversos trabalhos em países como Itália, Alemanha, França e Espanha. No Brasil, também deixou sua marca em capelas, igrejas, catedrais, mosteiros e escolas, em projetos arquitetônicos, pinturas, vitrais, azulejos, altares e peças litúrgicas. Mas, certamente, seu trabalho mais importante, no país, teve início no ano 2000, quando assumiu a reforma da Basílica de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida do Norte/SP. Grande devoto da espiritualidade beneditina, Pastro era, inclusive, oblato dessa ordem religiosa. E, desde 2015, era integrante do Núcleo Cultural Lux Mundi.
Dom Odilo Pedro Scherer, Cardeal Arcebispo de São Paulo emitiu uma nota de pesar sobre o falecimento do artista: 
Claudio Pastro deixa um legado incomparável de arte sacra. Seus dons artísticos, somados à profundidade teológica e espiritual, faziam reluzir em suas obras o que de mais genuíno há na espiritualidade cristã. Pela arte, evangelizou; como leigo consagrado, ligado à vida contemplativa e à regra de São Bento, contribuiu largamente com seu testemunho de dedicação e amor para a evangelização da Igreja [1].

Notas:

domingo, 9 de outubro de 2016

Vamos aos fatos: as melhores notícias, muitas vezes, não chegam a nós


Mia Couto, escritor moçambicano, disse uma vez que um dos fatores que mais ajudam a estimular a violência nos tempos atuais é a produção do medo. O medo é produzido de muitas formas: pela solidão e fragmentação social, pela indústria de armas que estimulam de muitas formas as guerras... e também, de forma não menos importante, pela mídia que gera uma impressão generalizada de que tudo vai muito mal. Um estudo recente mostrou que noticiar exaustivamente os ataques terroristas e suicidas estimula outras pessoas a seguirem o exemplo.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

A qual poder pertencemos?


Nesse período marcado pela confusão e o descrédito acerca da política, propomos aqui uma síntese de algumas reflexões de Luigi Giussani acerca das relações entre o sentido do humano e a relação com o poder, conteúdo de uma conferência proferida por ele em Pádova (Itália), no ano de 1987, mas ainda hoje de grande atualidade.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

"Prefiro as FARC no Congresso do que causando dor"

Reproduzimos uma entrevista publicada no último dia 26 de setembro de 2016, no caderno Internacional de O Estado de São Paulo, que relata como a colombiana Fabiola Perdomo, mulher de um dos 11 deputados sequestrados e mortos pelas FARC, em 2002, ouviu o pedido de perdão dos guerrilheiro.


Por Fernando Simas

"Prefiro ver as Farc no Congresso, transmitindo suas visões por meio de palavras e debates do que vê-las no campo atirando e causando mais dor." Essa é a opinião de Fabiola Perdomo, mulher de um dos 11 deputados de Valle de Cauca sequestrados pela guerrilha em 2002. Como parte do processo de paz, há duas semanas, as Farc pediram perdão pela primeira vez e assumiram total responsabilidade pela morte dos deputados, ações que levaram Fabíola a ter certeza de que a guerrilha mudou e a decidir fazer campanha pelo "sim" no plebiscito de 2 de outubro para saber se a população ratifica o acordo. 

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Uma corda que canta

Em tempos de crise - econômica, política... mas, sobretudo moral -, Giussani, ao falar de duas obras de Heitor Villa-Lobos, acaba nos propondo um caminho de juízo: "A estética é um relacionamento, é um meio com o qual o Criador nos faz alcançar a sua ética. Alguém que não tem sensibilidade não tem ética. A beleza é o esplendor da verdade e a verdade é o esplendor do Pai. Só um fascínio de beleza move, comove. Sem estética, sem o choque estético, não é possível caminhar em direção à perfeição, amar a perfeição."
 
 
 
Por Luigi Giussani

Frequentemente ouço, sem me cansar, o Prelúdio n.1 e o Estudo n.11 de Villa-Lobos [1]. Dizem a mesma coisa, mesmo sendo peças diferentes: mais viva a primeira e mais dramática a segunda.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Terremoto na Itália: por onde recomeçar? O amor é mais forte do que a destruição e a morte


O terremoto que, no dia 24 de agosto, devastou e destruiu cidades inteiras do Centro da Itália (as regiões do Lácio, Marcas e Úmbria) compreendeu mais de três mil eventos sísmicos, sendo que o tremor da terra ainda continua. Isto provocou um total de cerca 300 mortos e quatrocentos feridos, alguns dos quais em estado grave. Ainda hoje se procuram corpos de pessoas desaparecidas. Mas, junto ao desamparo e a morte, se levantou um movimento enorme de solidariedade e cuidado que permitiu salvar 204 vidas humanas retirando-as de debaixo dos escombros. Assim como a terra continua tremendo, não cessa a solidariedade para com as populações atingidas. 

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Rio2016: “Deus preparou meu coração”

A Olimpíada Rio2016 terminou e, para além de todas as questões amplamente discutidas nos mais diversos meios de comunicação, um momento memorável em meio aos tantos merece destaque: o ocorrido na primeira fase eliminatória da corrida de 5000 metros rasos feminina. Momento protagonizado pela neozelandesa Nikki Hamblin e pela norte-americana Abbey D’Agostino [1].

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Se o ISIS não o fizer antes, o próprio Ocidente derrubará suas igrejas

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3 de agosto de 2016, apenas oito dias depois da terrível execução do Padre Jacques Hamel, ao final da Missa na Igreja de Saint-Étienne... Outra Missa, mas, dessa vez, a igreja é a de Santa Rita, em Paris [1]. Também nesse caso, entram homens armados: não são terroristas vinculados ao ISIS, são policiais do batalhão de choque. Não invocam Alá, agem segundo a lei. Não degolam o celebrante ou algum dos fiéis, “limitam-se” a interromper o rito. Arrastam, à força, para fora do templo, os sacerdotes com os paramentos sagrados e os fiéis.

sábado, 13 de agosto de 2016

O terrorismo não é guerra de religião


No domingo, dia 31 de julho de 2016, aconteceu nas igrejas da Europa um fato significativo e novo que, infelizmente, foi pouco noticiado pela imprensa brasileira: a comunidade muçulmana da Europa participou das missas dominicais, em várias igrejas de diferentes países. Através desse gesto de oração comum, querendo mostrar sua solidariedade com a comunidade cristã atingida pelo assassinado do sacerdote francês Jacques Hamel, de 85 anos, degolado enquanto celebrava uma missa para cinco fiéis em sua igreja em Saint-Ettiénne-du-Rouvray, por dois jovens terroristas. Nesse dia, milhares de muçulmanos se uniram aos católicos em oração para, através de um gesto simples e concreto, “dizer aos nossos irmãos ofendidos, que nós estamos presentes e queremos dar-lhes nosso abraço” (palavras de Yahia Pallavicini, Presidente da comunidade muçulmana na Itália). Padre Jacques era muito atuante quanto ao diálogo inter-religioso e seu assassinato, que pretendia destruir a possibilidade deste diálogo, não logrou o objetivo, pelo contrário: foi a reafirmação de que este diálogo sempre é possível e se renova na medida em que os homens de qualquer crença e religião se colocam diante de Deus, se reconhecem Seus filhos e nesta filiação reencontram a raiz de sua verdadeira e real fraternidade. O gesto do domingo 31 de julho evidencia a falsidade da tese que considera o terrorismo uma guerra de religiões.  

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Diferença entre corrupção e pecado

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Em seu livro O nome de Deus é Misericórdia [1], Papa Francisco descreve a diferença entre corrupção e pecado, oferecendo-nos um subsídio importante para pensar os eventos que vivemos atualmente. Propomos alguns trechos do livro para estimular uma reflexão.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Comida e felicidade


A filosofia grega nos diz que a felicidade se alcança pela virtude e que a pessoa boa é feliz e quem faz o mal é infeliz. A tradição cristã afirma algo semelhante, ao dizer que a consciência tranquila leva à felicidade e que o estado permanente de quem é feliz é a paz. “A paz de Cristo esteja sempre com todos vocês” dizia sempre São Paulo. Nas Bem-Aventuranças, Jesus revela que a condição para ser feliz não é ter uma vida fácil e tranquila, mas ao contrário, a experiência de felicidade é ainda mais evidente em meio às tribulações que sofrem aqueles que são bons, puros de coração, honestos, justos, e por isso choram, são rejeitados, insultados, odiados (pelos que não são felizes...). Em linhas muito breves, este é de acordo com Sócrates, Platão, Aristóteles e toda a tradição bíblica o caminho para ser feliz.

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Crime não escolhe classe


No último dia 6 de junho, o jornal O Estado de São Paulo publicou, em sua sessão "Opinião", um texto do jornalista Carlos Alberto di Franco, intitulado "Crime não escolhe classe". O autor, partindo de uma discussão sobre o "mapa do crime", afirma que, na verdade, é preciso buscar sua causa e uma solução para ele, ao invés de continuar insistindo na mera constatação sociológica de sua presença neste ou naquele extrato da vida social. Propomos a leitura desse artigo como um subsídio a mais para se pensar o tema que propusemos em nosso último post - "Educação para a liberdade: um desafio para o Brasil".
Por Carlos Alberto di Franco
Engana-se quem pensa que tráfico de drogas é exclusividade dos morros, das favelas e das periferias excluídas. Crimes, vandalismo, espancamento de prostitutas, incineração de mendigos, consumo e tráfico de drogas despertam indignação e perplexidade. O novo mapa do crime transita nos bares badalados, vive nos condomínios fechados, estuda em colégios e universidades da moda e desfibra o caráter no pântano de um consumismo descontrolado. Frequentemente, operações policiais prendem jovens de classe média vendendo ecstasy, LSD, cocaína, maconha. Segundo a polícia, eles fazem a ligação entre os traficantes e os vendedores de drogas no ambiente universitário.

sábado, 4 de junho de 2016

Educação para a liberdade: um desafio para o Brasil

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Dando continuidade à reflexão acerca dos caminhos para uma renovação política do Brasil, gostaríamos hoje de focar sobre a importância da educação. Renovar a educação brasileira não é apenas uma questão quantitativa, apesar de ser evidentemente essencial assumir questões como, por exemplo, a digna remuneração econômica do corpo docente e a disponibilização de estruturas condignas para a instrução. Renovar a educação é também uma questão de qualidade: que tipo de educação o país está propondo para as novas gerações? Por exemplo: trata-se de uma educação tecnicista e exclusivamente voltada à capacitação de habilidades e competências visando o mercado de trabalho? Ou ainda, que tipo de conteúdos proporcionamos para esta formação através dos professores, currículos e manuais escolares?

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Formação de comunidades de leigos: quem é o responsável? A contribuição de Luigi Giussani

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Ressaltamos em nosso post do dia 4 de abril [1] a importância da contribuição das comunidades expressivas de experiências religiosas, em todas as religiões, para a renovação da política e da sociedade brasileira. Neste, desejamos citar brevemente as contribuições do P.e Luigi Giussani sobre um aspecto fundamental para a formação dessas comunidades: Quem é o responsável? Quais sãos suas características fundamentais do ponto de vista cristão? 
Partimos de uma pergunta: por que hoje, a contribuição de uma verdadeira religiosidade alimentada constantemente por comunidades vivas, parece ser tão pouco visível e consistente? Por que parece que a vida de tantas pessoas religiosas é cindida em duas partes: o âmbito da religiosidade privada ou dominical e o âmbito do mundo? Quase como se fossem dois mundos paralelos, quase nunca comunicantes? Ou, por outro lado, por que tantos leigos que realizam ações públicas a partir da própria fé ou constroem obras se sentem muitas vezes sozinhos? Sem dúvida há uma longa história e um ambiente cultural com certas características para chegarmos a essa situação; mas o que nos interessa é buscar entender como sair dessa dicotomia, pois nem Cristo, nem os apóstolos, nem tampouco as primeiras comunidades, ou os cristãos dos primeiros séculos, a viviam.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Apresentação do livro "O nome de Deus é misericórdia"

Apresentação do livro "O nome de Deus é misericórdia", do Papa Francisco.
Dia 29 de abril de 2016
Horário: 19h
Local: Colégio Padre Antônio Vieira
Rua Humaitá, 52 - Humaitá
Rio de Janeiro

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Um retorno às fontes: diálogo inter-religioso e ecologia

Laboratório de Análise de Processos em Subjetividade (LAPS/UFMG) convida:
Um retorno às fontes: diálogo inter-religioso e ecologia
http://www.dialogointerreligioso.fafich.ufmg.br/
UFMG, Belo Horizonte
Transmissão ao vivo no dia 6 de maio por  www.ufmg.br/aovivo

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segunda-feira, 4 de abril de 2016

No caminho para a renovação da política e da sociedade brasileira: a contribuição da religiosidade


Muito se tem falado que o combate à corrupção no Brasil depende da educação. Mas que educação? Será que basta aumentar a escolaridade? Bom, os corruptos que estamos vendo por aí têm inteligência, pois conseguiram galgar muitos patamares sociais, e muitos também têm alta escolaridade. Isso não quer dizer que a escolaridade média do povo brasileiro não esteja muito aquém do aceitável para um país que deseja se desenvolver economicamente; mas o aumento da escolaridade não é suficiente para levar um povo a desejar não trapacear quando tem oportunidade, roubar mesmo em pequenas coisas que parecem ter pouca valia, deixar de ser egoísta e oportunista e só pensar no interesse próprio.

domingo, 3 de abril de 2016

Ideologia e terror: uma nova forma de governo

Como subsídio para pensarmos mais adequadamente o período que estamos vivendo, no Brasil, propomos o capítulo "Ideologia e terror: uma nova forma de governo", do livro Origens do Totalitarismo, de Hannah Arendt. A autora nos lembra, entre outras coisas, que o tipo ideal de sujeito numa experiência totalitária é o homem para quem a diferença entre fato e ficção - isto é, a capacidade de se certificar da realidade da experiência - e entre verdadeiro e falso - aquilo que normatiza o pensamento - não existe mais.

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Por Hannah Arendt

Nos capítulos precedentes, reiteramos o fato de que os métodos do domínio total não são apenas mais drásticos, mas que o totalitarismo difere essencialmente de outras formas de opressão política que conhecemos, como o despotismo, a tirania e a ditadura. Sempre que galgou o poder, o totalitarismo criou instituições políticas inteiramente novas e destruiu todas as tradições sociais, legais e políticas do país. Independentemente da tradição especificamente nacional ou da fonte espiritual particular da sua ideologia, o governo totalitário sempre transformou as classes em massas, substituiu o sistema partidário não por ditaduras unipartidárias, mas por um movimento de massa, transferiu o centro do poder do Exército para a polícia e estabeleceu uma política exterior que visava abertamente ao domínio mundial. Os governos totalitários do nosso tempo evoluíram a partir de sistemas unipartidários; sempre que estes se tornavam realmente totalitários, passavam a operar segundo um sistema de valores tão radicalmente diferente de todos os outros que nenhuma das nossas tradicionais categorias utilitárias — legais, morais, lógicas ou de bom senso — podia mais nos ajudar a aceitar, julgar ou prever o seu curso de ação.

quinta-feira, 24 de março de 2016

A festa da fé

Nesta Semana Santa, às vésperas da Paixão de Nosso Senhor, propomos um comentário de Luigi Giussani à peça de Antonín Dvorák, Stabat Mater. "'Fac ut ardeat cor meum in amando Christum Deum ut sibi complaceam' (...) Aquilo que faz o coração vibrar é o olhar de Cristo. Por isso, pedimos a Sua força. Faze que eu possa Te amar, aderir à Tua presença, dizer “sim”, obedecer-Te. Faze que o meu coração arda no amor a Ti."


Por Luigi Giussani

Em Nossa Senhora a adoração do nosso coração encontra o seu exemplo e a sua forma [1]. Com que intensidade nós a surpreendemos olhando Jesus, desde quando, pequeno, caminhava as primeiras vezes, até quando morreu, até quando parou de caminhar sobre esta terra depois de ressuscitado! Imaginemos o olhar com que Maria o fixava: que intensidade sem fim, sem limite, que consciência sem limite! E não compreendia ainda, salvo as misteriosas palavras ouvidas do Anjo: “Ele se chamará Emanuel”; Ele, de fato, salvará o seu povo, salvará cada um de nós.

segunda-feira, 7 de março de 2016

Ideologia, poder e sentido dos fatos históricos

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"Se lermos a definição de educação dada pelo mais famoso pedagogo soviético Makarenko, intuiremos com angústia a teorização consequente de um Estado representado pelos chefes do partido, que tem o direito de possuir e determinar o homem, como o mecânico com relação ao parafuso de sua máquina: 'A educação é a linha de montagem da qual sairá o produto do comportamento adequado às solicitações de quem organicamente incorpora e interpreta o sentido do devir histórico'. Quem 'incorpora organicamente e interpreta o sentido do devir histórico' é quem detém o poder no momento: trata-se, então, de uma total alienação da pessoa humana na concepção ideológica da sociedade manejada pelo poder" [1].

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Quaresma: Deus é misericórdia

Propomos, neste Tempo da Quaresma, a transcrição de uma palestra feita por Luigi Giussani, em 1975, para um grupo de Memores Domini, na Itália [*]. "A Quaresma é o instrumento sacramental para incrementar a conversão, é um tempo que Deus destina a nos dar um ímpeto de transformação maior", confortando-nos com Sua Misericórdia.

Por Luigi Giussani

A oração de ontem à noite [1] chamava a nossa atenção para os dois resultados da conversão: a paixão pelo conhecimento de Cristo (“conhecimento” no sentido pleno e bíblico da palavra), portanto a paixão por Cristo, o amor a Cristo como desejo de adesão a Ele, e, em segundo lugar, as boas obras. A Quaresma é o instrumento – instrumento sacramental – para incrementar essa conversão. Em outras palavras: quando se põe em prática o sinal quaresmal, quando se “aplicam” as indicações pedagógicas em que a Igreja faz consistir o apelo quaresmal, acontece em nós, pela força do Espírito, algo muito maior do que aquilo que nossos esforços habituais poderiam produzir. É um tempo sacramental, é um tempo que Deus destina a nos dar um ímpeto de transformação maior.


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Luigi Giussani e a luta pelo valor da pessoa

Hoje, 22 de fevereiro de 2016, completam-se onze anos da morte do Padre Luigi Giussani, sacerdote italiano fundador do Movimento de Comunhão e Libertação. Propomos um trecho da entrevista com o jornalista Robi Ronza sobre os primeiros trinta anos da história do Movimento, republicado na Itália pela editora Rizzoli BUR (Il movimento di Comunione e Liberazione: 1954-1986, 2014). O texto foca a importância do papel dos cristãos no momento histórico contemporâneo, como sendo essencial para a afirmação do valor da pessoa humana contra as novas, e mais sofisticadas, formas de despotismo.  


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A beleza de ouvir o outro

Compartilhamos um vídeo preparado pela Comunidade Taizé, em memória de seu fundador, o Irmão Roger (1915-2005). Trata-se de um extrato de entrevistas inéditas do Irmão Roger.


A Comunidade Taizé é uma comunidade ecumênica dedicada à oração, foi fundada pelo Irmão Roger a partir da intuição de que a vida em comunidade e em oração podia ser sinal de reconciliação para o mundo e para as igrejas. Assim ele descrevia sua intuição:
Penso que, desde a minha juventude, nunca perdi a intuição de que uma vida em comunidade pode ser um sinal de que Deus é amor; só amor. Pouco a pouco crescia em mim a convicção de que era essencial criar uma comunidade de homens decididos a dar toda a sua vida, e que procurassem sempre compreender-se mutuamente e reconciliar-se: uma comunidade onde a bondade do coração e a simplicidade estivessem no centro de tudo.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

O vírus Zika e os interesses da ideologia

 
Nas últimas semanas, o Brasil e o mundo estão lidando com o surto do vírus Zika e sua provável associação com a microcefalia. Surto que foi declarado ser epidemia mundial, cuja rápida difusão deve-se também ao descuido que, ao longo de anos, as autoridades sanitárias mundiais tiveram diante dos primeiros sinais da presença do vírus em vários países da África e na Índia. A primeira identificação do vírus ocorreu na Uganda, na Floresta Zika, no longínquo ano de 1947. Agora várias nações do mundo estão correndo para minorar o tempo perdido, diante do fato do vírus estar afetando de maneira maciça diversos países, dentre os quais, em primeiro lugar, o Brasil às vésperas dos Jogos Olímpicos. E, nesse momento, se tem discutido e pesquisado mais pontualmente sua correlação ainda hipotética com a microcefalia.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Family Day: Multiculturalismo e Democracia


O que 2 milhões de pessoas ocupando as ruas de Roma e se concentrando no Circo Máximo e suas imediações, no último dia 30 de janeiro [1], pode ter que ver conosco, no Brasil? Para além da rua como palco de manifestações públicas, para além do fato de vivermos todos num contexto de Democracias plurais, está também em jogo a afirmação de algo que também nos interessa: o valor da família como fundamento para a lei e a sua relação com as bases da vida social.

sábado, 30 de janeiro de 2016

Uma gratidão que constrói história: a vida de Arthur George Weidenfeld


Recentemente, morreu em Londres, aos 96 anos, Arthur George Weidenfeld, judeu que escapou na juventude do extermínio nazista e que, recentemente, tomou a decisão de doar tempo e dinheiro para o resgate dos cristãos perseguidos do Estado Islâmico (EI) na Síria.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Desmoronamento e ressurgimento: um olhar cristão para as vicissitudes do tempo presente

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A história humana segundo a compreensão judaico-cristã e bíblica chama-se historia salutis, ou história da salvação. De acordo com essa tradição, a trajetória do ser humano sobre a Terra revela um progresso contínuo. O que significa que, entre quedas, desvios, destruições, guerras e a presença do mal que age sempre impelindo o ser humano ao nada e à mentira com a possibilidade de destruição total de si e de tudo o que existe sobre a Terra, há uma contínua evolução em direção ao bem. Possível pela ação misericordiosa de Deus que sempre derrama graças e age nos corações dos homens de boa vontade e pela presença na natureza humana de um impulso livre para o bem, pois o ser humano foi feito à imagem e semelhança de Deus. Por isso, este tem em sua natureza a imagem de Deus que pode sempre reconhecer, se quiser, dentro do dinamismo da sua liberdade.