segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Cláudio Pastro: oblato beneditino

A afiliação de Cláudio Pastro, Irmão Martinho, como oblato beneditino, no Mosteiro Nossa Senhora da Paz

Por Ir. Martha Lúcia Ribeiro Teixeira, OSB [1]


Era o dia 21 de julho de 2004, um dia lindo e frio de inverno, em que tivemos a bela celebração dos 30 anos de fundação do nosso Mosteiro Nossa Senhora da Paz. Quem viera presidir a nossa Celebração Eucarística tinha sido Dom Arquiabade Emanuel D’Able do Amaral, na ocasião, Abade Presidente da Congregação Beneditina do Brasil. Nosso amigo, irmão e benfeitor Cláudio Pastro aqui estava, com um grupo de amigos do Mosteiro. Após o almoço fui ao encontro deles, que conversavam do lado de fora, ao sol. Uma pergunta me ardia no coração... e ao aproximar-me do Cláudio lhe perguntei “à queima roupa”: Cláudio, por que você não se torna oblato de nosso Mosteiro? A resposta veio, também, imediata: Sim, com muita alegria! Já desejava isso há tempos!
O que é um oblato? O oblato é um fiel leigo, consagrado ou sacerdote que, chamado por Deus, e em conformidade com seu estado de vida, associa-se a uma comunidade monástica beneditina, a fim de viver coerentemente a sua consagração batismal em comunhão com a Igreja, no espírito da Regra de São Bento. Os oblatos fazem parte, dessa forma, da família monástica onde fazem a oblação e compartilham dos bens espirituais do mosteiro, assumindo o compromisso de viver segundo o espírito da Regra de São Bento. Cumpre ao oblato nutrir sentimentos de filial fidelidade à Igreja, pulsar com ela e identificar-se com o seu magistério. Viverá, assim, também, o espírito da Regra de São Bento, que através dos séculos, sempre foi uma referência para a Igreja.
O Cláudio já vivia tudo isso há muito tempo! A ligação de Cláudio com nossa comunidade monástica já existia, então, desde 1976, quando aqui ele viera pela primeira vez.
Durante todos esses anos ele tinha ficado muito ligado à nossa 1ª Abadessa, Madre Dorotéia Rondon Amarante, sobretudo por ela ter também a mesma sensibilidade artística que ele, e às outras monjas fundadoras de nosso mosteiro, de modo especial, à nossa Ir. Mônica Castanheira, que muito o ajudava com pesquisas bíblicas e teológicas para subsídio de seus trabalhos; portanto, tornar-se oblato para o Cláudio, era só a confirmação, diante  de Deus e da Igreja, de se tornar membro efetivo de uma comunidade monástica, o nosso mosteiro,  o que ele já vivia de todo o coração.
Assim, após a aceitação desse convite, e nós sabendo o quanto ele já estava preparado para esse passo, marcamos a oblação para o dia 17 de outubro de 2004, Memória de Santo Inácio de Antioquia, santo tão querido a ele e a nós, e a toda a Santa Igreja! Quanto ao Patrono, ele me disse que se eu lhe permitisse, ele gostaria de ter seu nome escolhido por Madre Dorotéia. Para sua surpresa, na véspera da oblação, ela lhe deu Martinho, como nome, em homenagem a D. Abade Martinho Michler, o Abade emérito do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, tão caro às nossas monjas fundadoras e à toda a nossa comunidade, com quem Cláudio tinha tido profundos colóquios espirituais em nosso Mosteiro e no Mosteiro do Rio.
A história nos conta que São Martinho (317-397), o grande Bispo de Tours, discípulo de Hilário de Poitiers, que fundou em Ligugé o primeiro mosteiro de todo o Ocidente; ainda catecúmeno e soldado, Martinho, não pensou duas vezes ao passar a cavalo e ver um pobre tiritando de frio; cortou com sua espada a metade do manto que trajava e recobriu o dorso nu daquele pobre. 
Assim, nesse dia escolhido desde toda a eternidade pelo Senhor, nosso Ir. Martinho fez a sua oblação em nosso Mosteiro, escrevendo de próprio punho no belo pergaminho preparado por ele mesmo, sua oblação:
Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém. Eu, Cláudio, Irmão Martinho, Pastro, me ofereço a Deus Onipotente, na presença da Bem-Aventurada Virgem Maria e de Nosso Pai São Bento, no Mosteiro Nossa Senhora da Paz, da Congregação Beneditina do Brasil, e prometo, diante de Deus e de todos os Santos, a conversão dos meus costumes, e viver segundo o espírito da Regra de São Bento e conforme o Estatuto dos Oblatos da mesma Congregação. E, para que esta oblação mereça fé, escrevi, do próprio punho, esta carta, no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de dois mil e quatro, aos dezessete dias do mês de outubro, a qual assino.
Após a sua assinatura, segue a assinatura do prelado que presidia a Celebração Eucarística desse dia, o Abade emérito D. Joaquim de Arruda Zamith, OSB, e a minha assinatura como Abadessa do Mosteiro Nossa Senhora da Paz. Em seguida, como é previsto no Rito de oblação, o oblato canta, diante do altar, com os braços erguidos:
Suscipe me Domine secundum eloquium tuum et vivam. Et non confundas me ab exspectatione mea. Gloria Patri et Filio et Spiritui Sancto, sicut erat in principio et nunc et semper et in secula seculorum. Amen. (Recebei-me, Senhor, segundo a vossa palavra e viverei. E não serei confundido em minha esperança. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre. Amém)
Assim, selava de forma solene e pública, essa profunda conaturalidade que Cláudio sempre teve com o nosso mosteiro, essa amizade tão pura e verdadeira, essa dedicação tão ilimitada e extraordinária que ele nos oferecia ao longo de todos esses anos de fidelidade.
Agora, temos a alegria de termos reservado (quando ampliamos a igreja) um lugar para que ele fosse sepultado aqui, como era o seu desejo. 
Aqui nosso Ir. Martinho, Cláudio Pastro, repousa à espera da ressurreição, aguardando ouvir Daquele que tanto buscou e amou nessa vida, o convite final: “Servo bom e fiel, entra na alegria do teu Senhor”!

Notas:
[1] Ir. Martha Lúcia Ribeiro Teixeira, OSB é a 3ª Abadessa do Mosteiro Nossa Senhora da Paz (Itapecerica da Serra/SP)

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