sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Tempo de espera, vigilância, paciência e esperança

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O tempo do Advento ou tempo da espera da vinda de Deus na carne, é um tempo litúrgico que tem a finalidade de nos estimular a experimentar a espera, aprender a vigilância (ou seja, a prestar atenção nas coisas que vivemos), a ter paciência e confiar com esperança que o Senhor conduz firme e completamente a história dos seres humanos, trabalhando divinamente (como Ele sabe fazer) a nosso favor.
Santo Agostinho diz que nós cristãos, em comparação com os não crentes, já somos luz. Todavia, em comparação com aquela luz a que chegaremos, ainda é noite até mesmo o dia em que estamos... [1]. E, em um sermão, afirma:
Aqui embaixo, cantemos o Aleluia, ainda apreensivos, para podermos cantá-lo lá em cima, tranquilos. Por que apreensivos aqui? Não queres que eu esteja apreensivo, quando leio: "Não é acaso uma tentação a vida humana sobre a terra?" (Jó 7,1). Não queres que fique apreensivo, se me dizem outra vez: "vigiai e orai para não cairdes em tentação?" (cf. Mt 26,41). (...) Cantemos, portanto, agora meus irmãos, não por deleite do repouso, mas para alívio do trabalho. Como costuma cantar o caminhante: canta mas segue adiante; alivia o trabalho cantando. Abandona, pois a preguiça. Canta e caminha. [2]
São Bernardo diz que o Senhor vem três vezes: primeiro, na carne como uma criança no seio de Maria; depois renasce, constante mas ocultamente, no coração daqueles que O recebem; e, por fim, virá na Sua glória total e completamente manifesta [3]. Nós estamos no tempo da sua vinda intermediária e o tempo do Natal é o tempo para que abramos o nosso coração a Ele e Ele renasça em nós. Como?
Quem espera na vinda do Senhor, vive na paciência. Jesus afirma que a paciência é a forma de possuirmos a nossa vida. A paciência é, portanto, o modo de viver o tempo presente. Paciência (de patior) é a capacidade de carregar todas as circunstâncias com coragem. Mas como fazer isso? Primeiro, é necessária a oração com fé que confia que o Senhor não abandona ninguém que pede e que sabe que se a resposta não vem é porque é melhor nesse momento outra coisa diferente da que desejamos, e, que por causa da nossa temporalidade em relação à eternidade de Deus, não conseguimos enxergar. Quem pede assim, com o tempo, vai fazendo a experiência de não renegar, não esquecer e não recusar nada. Padre Luigi Giussani, em seu livro É possível viver assim?,  explica que se renega algo quando, apesar de evidente, não se quer admiti-lo; que se esquece  um fato porque não se interessa, no momento, ou porque se quer afirmar uma posição; e que se recusa algo quando se reconhece a sua importância, mas se vira o rosto [4]. Estas três atitudes estão na origem dos sofrimentos que impingimos a nós mesmos e aos outros. A paciência permite então respeitar a realidade como ela se apresenta e é assim que podemos cantar e caminhar!

Notas:
[*] Imagem extraída daqui.
[1] cf. AGOSTINHO. Tratado sobre o Evangelho de São João.
[2] AGUSTIN. Sermones (6 vol.s). Madrid: BAC, 1981-1985 (Sermo, 256).
[3] cf. BERNARDO DE CLARAVAL. Sermões do Advento (Sermão 5).
[4] cf. GIUSSANI, Luigi. É possível viver assim? Uma abordagem diferente da existência cristã. São Paulo: Companhia Ilimitada, 2008, pp. 170-172.

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