quarta-feira, 1 de julho de 2015

Educação integral: como?


Realizou-se na UNIFESP, no último dia 13 de junho, o encontro “A construção do Brasil e a educação da pessoa”, nascido da parceria entre os grupos Philokalon, Coração Novo e Núcleo Cultural Lux Mundi, e que se propunha a discutir os desafios da educação integral no contexto atual. Seguem algumas considerações sobre o evento.


Entre o tic e o tac há um tum tonitruante
transcendendo e atraindo as engrenagens...

Poucas coisas poderiam ser mais oportunas para se introduzir um encontro sobre educação do que o poema escolhido. Entre o tic e o tac há um tum tonitruante: existe por trás do tempo, fugaz como uma batida de coração – tum – um outro tempo que o transcende. Nas palavras de Eliot: “Um momento no tempo, mas o tempo foi feito através desse momento, pois sem significado não há tempo, e aquele momento do tempo lhe deu o sentido” [1].
Parafraseando o pensamento de Pavel Florensky, assim como a palavra – símbolo – é a revelação do sentido, o tempo físico é símbolo, sinal, deste outro tempo [2]. Não uma característica casual da realidade, uma mera expressão da sua existência, mas a própria expressão deste outro tempo, no aspecto do desvelamento de si e da autodoação. O primeiro é o símbolo, ou seja, a revelação do segundo.
E a educação com isso?
Dizia Aristóteles: a filosofia nasce do assombro [3]. Deste assombro – entendido como um estupor maravilhado diante do real – nasce o conhecimento: “Só o maravilhamento conhece” [4]. Pois apenas um olhar apaixonado é capaz de se interessar verdadeiramente e até o fim, e, em se interessando profundamente pelo objeto, depreender-lhe o significado último. 
Ou seja, diante da mesmice e da distração diárias, aquele capaz de deter um olhar verdadeiramente atento e apaixonado é diferente dos demais, presas da distração cotidiana. E esse olhar original gera uma postura original, uma resposta original – capaz de conhecer. O educador é o primeiro a perceber e se maravilhar com esta realidade-tempo como símbolo de outra realidade e, portanto, aquele por excelência capaz de entendê-la (e, portanto, capaz de ensinar).
Apenas um professor atento a este outro tempo e, portanto, capaz de se maravilhar, pois entende que há algo de positivo que transcende toda a realidade visível, é capaz de ser verdadeiramente mestre.
Na ausência de qualquer dos elementos – seja o mestre, seja a hipótese positiva – todo processo educativo torna-se violência: tocar aquilo que de mais caro existe para o homem – a necessidade de sentido – sem oferecer-lhe uma resposta apropriada, integral. Restam apenas o nada e a revolta, como no inesquecível samba de Cartola: “E com raiva, para os céus, os braços levantei, blasfemei. Hoje todos são contra mim” [5]. É o sentimento que permeia tantos fracassos educacionais contemporâneos.
A incomunicabilidade e solidão modernas só são superadas se se contempla uma possibilidade de resposta: uma esperança própria que nasce do confronto com outrem – o mestre – cujo sentido da própria espera já começa a revelar-se. Só assim é possível começar a caminhar: se se tem diante dos olhos alguém cuja espera já é respondida, ainda que parcialmente.
Somente uma educação que tenha isso em conta, integral, é realmente capaz de educar. Só assim é possível ter uma postura original, geradora de uma resposta original.

Daniel Facchin

Notas:
[1] ELIOT, Thomas S. Coros de “A Rocha”. In: ELIOT, Thomas S. Poesia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
[2] FLORENSKY, Pavel A. Non dimenticatemi. Milano: Mondadori, 2006.
[3] ARISTÓTELES. Methaphysics. The Internet Classics Archive.
[4] NISSA, Gregorio di. La vita di Mosè. Milano: Mondadori, 1984.
[5] CARTOLA e MARTINS, Oswaldo. Sim. São Paulo: Discos Marcus Pereira, 1974.

Nenhum comentário:

Postar um comentário